Das coisas mal conseguidas

Tenho seguido com bastante interesse os últimos anos de política em Portugal. Não vou negar que a montagem “da geringonça” despertou imenso o meu ineteresse, numa espécie de “não perca o próximo episódio” – só para perceber como é que o Partido Socialista ia driblar a governação com os seus novos compadres.

O resultado da “governabilidade” conseguida através deste trio, não fosse uma coisa séria, só poderia ser interpretado como risível dado o papel a que o PS se prestou e dos constantes arrasos por parte dos Partidos com os quais dividiu a governação. Sempre com um vislumbre de autodestrução, num jogo de 2 contra 1, querendo dizer, PCP e BE contra PS. É até um bocadinho doloroso, mesmo para não simpatizantes, ver o PS a ser constantemente enxovalhado.

Tornou-se assim bastante claro que tivemos um PS refém, um tanto ou quanto masoquista, porque se colocou nessa posição de livre vontade e, pior que isso, hipócrita, porque deixou de corresponder a alguns dos princípios que invoca como orientadores, tais como a liberdade.

E convém lembrar que a liberdade é uma estrada de dois sentidos. Eu sou livre mas o outro também tem o direito de o ser. Contando que não nos atropelemos uns aos outros. E foi a esta concepção de liberdade que o Partido Socialista, conduzido pelo seu Secretário-Geral, no papel de Primeiro-Minstro, negligenciou quando se aliou a dois Partidos que consideram a liberdade um ex-líbris mas só quando esta é posta à disposição dos seus ideais. Juntaram-se os três à esquina a tocar na nossa vida e a dançar, tão mal, que dá dó.

Quando apoiamos um Partido, mais do que apoiar o seu líder, apoiamos um conjunto de princípios orientadores que não podem ser negociáveis. Pois os elementos do Partido mudam mas a géneso do Partido tem de permanecer. Caso contrário, o Partido deixa de ser ele próprio e passa a ser um outro Partido, mais ou menos semelhante ao original. E foi mais ou menos isso que aconteceu ao Partido Socialista quando escolheu para parceiros de governação dois Partidos muitíssimo mais à Esquerda do que seria razoável para o a sua génese e que, apesar de se mostrarem muito atarefados, estão muitíssimo mais a servir-se a si mesmos do que ao país como um todo.

Tudo isto para dizer o seguinte: a governabilidade não é (ou não deveria ser) o fim absoluto da governação de um país. Tal como sobreviver não é, pelo menos para pessoas mentalmente saudáveis e em circustâncias razoáveis, um objetivo de vida. Aprovar leis, mesmo que estapafuridas, estabelecer obrigações, mesmo que abusivas, ou manter pessoas em funções, mesmo quando se revelam um flop, não é muito útil para o país. E, a meu ver, deveria envergonhar os envolvidos.

A.Vilanova

Fechar Menu