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Sudão e Etiópia começam a discutir delimitação de fronteiras

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O Sudão e a Etiópia iniciaram hoje, em Cartum, discussões sobre a delimitação da sua fronteira comum, anunciou, em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro sudanês, Abdullah Hamdok.

Há uma semana, o Sudão acusou o exército etíope de ter emboscado soldados sudaneses no seu território, causando a morte de quatro deles e ferindo cerca de outros 20.

As delegações são lideradas do lado etíope pelo vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, Demeke Mekonnen, e do lado sudanês pelo ministro da presidência do Conselho de Ministros, Omar Manis.

"As conversações de dois dias incidirão sobre a questão da fronteira (...) e iremos definir o início da delimitação da fronteira", disse o gabinete do primeiro-ministro sudanês.

Na abertura da reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros etíope, Demeke Mekonnen, descreveu a atitude do Sudão como "pouco amistosa".

"O que temos testemunhado recentemente não se assemelha a relações cordiais entre dois países (...) É por isso que queremos reativar os mecanismos existentes", disse Mekonnen durante o encontro do Alto Comité Político Conjunto para a delimitação das fronteiras.

No discurso, cujo texto foi distribuído pela Embaixada da Etiópia em Cartum, salientou que "encontrar uma solução duradoura para a fronteira requer uma resolução amigável das questões do povoamento e do cultivo da terra".

O chefe da diplomacia da Etiópia acusou ainda "forças militares sudanesas" de cometerem "ataques organizados" nas últimas semanas à parte etíope da fronteira.

"Desde 09 de novembro de 2020, temos vindo a observar ataques organizados pelas Forças Militares sudanesas com metralhadoras pesadas e carros blindados", disse Demeke Mekonnen.

De acordo com Demeke, os produtos agrícolas dos agricultores etíopes foram saqueados e os seus campos destruídos e vários civis foram mortos e feridos.

"O Governo etíope está muito preocupado com estes recentes desenvolvimentos nas zonas fronteiriças", disse o ministro, acrescentando que "estão a pôr em risco os acordos" conseguidos para a região

Demeke Mekonnen defendeu, neste contexto, que "encontrar uma solução amigável para os assentamentos e o cultivo" é a única forma de alcançar uma "solução duradoura" para os problemas nas zonas fronteiriças comuns.

A reunião foi acordada, no domingo, pelos primeiros-ministros da Etiópia, Abiy Ahmed, e do Sudão, Abdallah Hamdok, à margem da 38.ª Cimeira Extraordinária da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD) da África Oriental, realizada no Djibuti.

O acordo fronteiriço data de 1902, antes da independência do Sudão em 1956, entre a Grã-Bretanha e a Etiópia, mas várias disputas mantinham-se por resolver, com incidentes regulares com agricultores etíopes que vinham para cultivar em território reclamado pelo Sudão.

O ponto mais quente é a região de El Fashaga, no estado de Gedaref, que concentra 250 quilómetros quadrados de terrenos agrícolas cobiçados pelos agricultores de ambos os países.

O Sudão enviou "reforços militares significativos" após o confronto de 15 de dezembro, disse no sábado a agência oficial Suna.

"As forças armadas sudanesas continuarão a avançar na linha da frente dentro do El Fashaqa" no Sudão, afirmou.

Adis Abeba, por seu lado, estava interessada em minimizar o significado da emboscada, dizendo que o incidente não ameaçava a relação entre os dois países.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros etíope disse à agência France-Presse que as forças etíopes "tinham repelido uma incursão no seu território liderada por oficiais menores e agricultores".

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