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Vai morrer…!

O “ não sabemos” pode, deve, ser transformado num “sabemos”. Sabemos que usar máscara é eficaz

Foi assim, directo e sem qualquer subterfúgio que um colega, e amigo, me falou acerca de um paciente, também amigo, sobre quem eu tinha feito a pergunta: “como é que ele está?”

“Vai morrer”, disse o médico que assistia o meu amigo!

É assim, com esta frieza, que os números, mais do que os médicos, nos vão avisando do que pode acontecer se não houver o cuidado necessário para evitar a propagação da contaminação pelo SARS CoV 2 e consequente Covid 19.

“Não sabemos” – foi uma frase muito dita e escrita nos primeiros meses desta epidemia (não gosto do termo pandemia) provocada, como sabemos, aqui sim, por um vírus com uma coroa a que chamaram SARS CoV 2.

Porque não sabíamos que tipo de evolução teria a propagação,

Porque não sabíamos que tipo de patogenicidade teria este vírus,

Porque não sabíamos que tipo de tratamentos seriam eficazes para as patologias que foram atingindo os vários órgãos e sistemas que compõem o organismo humano,

Porque por ser novo e por não haver experiência e conhecimento científico, não sabíamos.

E continuamos a não saber.

Mas sabemos mais do que já soubemos. Sabemos como se propaga, sabemos que tipo de letalidade pode ter, sabemos que há tratamentos e fármacos que podem ser actuantemente eficazes, sabemos, através de conhecimentos científicos entretanto adquiridos, que a imunidade de grupo será atingida com uma vacina, sabemos que a vacina está mais perto do já esteve, mas ainda suficientemente longe para que a sua eficácia a curto prazo seja ainda uma miragem.

E, sabemos bem, mesmo continuando sem saber tanta coisa, que uma das formas mais eficazes que temos de contrariar a propagação é através da civilidade:

usar protecção facial é o primeiro passo, manter distância uns dos outros, evitar lugares com muita gente e, talvez o mais importante, levar a sério as recomendações que as autoridades de Saúde vão fazendo, mesmo tendo por base o “não sabemos” sabendo o que as evidências e os estudos científicos foram demonstrando.

O “ não sabemos” pode, deve, ser transformado num “sabemos”.

Sabemos que usar máscara é eficaz,

Sabemos que o distanciamento físico é eficaz,

Sabemos que não estar em grupo é eficaz,´

Sabemos que ficar em casa é eficaz,

Sabemos que tudo isto pode ser alcançado com civismo e bem querer.

É responsabilidade de cada um, mais do que responsabilidade do poder político ou das autoridades, fazer um “sabemos” consciente, sem jogar as culpas para os outros, sem querer fazer um assunto político o que nada tem de político, principalmente sabendo que a liberdade individual de cada um termina onde começa a liberdade do outro, e eu quero, civil e sensatamente, ter a liberdade de não ser contaminado por outrem só porque esse outrem acha que a sua liberdade é maior do que a liberdade do seu próximo. E esse exercício começa em casa, nos Pais, nos Filhos, na educação que tem de partir de casa sem esperar que sejam os outros a educarem os filhos nas escolas.

Isso sabemos!

E sabemos bem que a não ser assim, um dia o vírus, tal como o meu colega, muito friamente pode dizer a qualquer de nós:

“Vai morrer…”

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