A tradição de São Martinho na Madeira
Amanhã, 10 de Novembro, a Madeira prepara-se para celebrar a véspera de São Martinho, uma das datas mais aguardadas do calendário popular. Na ilha, esta tradição mistura a fé, os sabores da estação e a alegria do convívio nas ruas. O magusto, costume ancestral de assar castanhas e provar o vinho novo, ganha aqui um sabor particular, com o delicioso bacalhau na chapa e o espírito de partilha que marca o Outono madeirense.
Origem do dia de São Martinho
O dia de São Martinho, celebrado a 11 de Novembro, recorda São Martinho de Tours, o soldado romano do século IV que partilhou o seu manto com um mendigo e, segundo a lenda, trouxe o ‘Verão de São Martinho’, uns dias de sol a meio do Outono, que ajudaram a popularizar o dia como uma oportunidade de convívio ao ar livre.
A data, associada à prova do vinho novo e à castanha acabada de colher, assinala o fim das colheitas e a chegada do tempo frio, que une elementos religiosos, agrícolas e comunitários.
O magusto madeirense
Na ilha, a tradição do magusto começa na véspera, a 10 de Novembro. Famílias, vizinhos e algumas associações juntam-se perto das brasas para assar as castanhas, beber o primeiro vinho e celebrar a tradição. Contudo, a festa madeirense vai além destes costumes, com a presença obrigatória do bacalhau na chapa, do pão e das semilhas. A tradição de saborear bacalhau na véspera de São Martinho, é um acto colectivo, onde juntas de freguesia, clubes, paróquias e restaurantes preparam quilos de bacalhau demolhados e temperados, que são depois colocados na chapa.
Este símbolo de convívio e partilha entre amigos e famílias, é destacado na edição impressa do DIÁRIO deste domingo, 9 de Novembro.
Madeira e Portugal continental celebram de forma diferente
Apesar das variações, o espírito de convívio e partilha é o mesmo. No continente, a tradição mantém-se mais íntima e rural, ligada à terra e ao vinho. Na Madeira, ganhou contornos mais colectivos, urbanos e gastronómicos, sendo uma festa que une gerações, mobiliza freguesias e valoriza produtos locais.
Em Portugal continental, o magusto é uma festa campestre que se desenrola, geralmente, em quintais, escolas e praças, com fogueiras ao ar livre, castanhas assadas, batata-doce, enchidos e broas, acompanhadas de vinho novo e água-pé. É um momento de celebração simples e comunitária, ligado ao fim das colheitas e à partilha entre vizinhos.
Na Madeira, a tradição adaptou-se à realidade insular e ganhou características próprias. Como anteriormente mencionado, a véspera marca o arranque das celebrações, com magustos que combinam castanhas assadas, vinho novo e, sobretudo, bacalhau. Além do sabor, a festa funciona como momento de valorização económica para produtores de castanhas e adegas regionais, que aproveitam a ocasião para promover o vinho novo e outros produtos típicos.
O clima também influencia a forma como a festa é vivida. No continente, os dias ainda frios do Outono contrastam com o breve ‘Verão de São Martinho’, convidando a celebrações mais próximas, ao redor do fogo. Na Madeira, o Outono ameno permite que os magustos se realizem ao ar livre, nos largos das freguesias e adros das igrejas, com música popular e bancas de produtos regionais.