Milhares de pessoas em Paris numa acção de sindicatos contra o Governo
Milhares de manifestantes reuniram-se hoje em Paris numa ação convocada por sindicatos para protestar contra as medidas de austeridade do Governo de Sebastien Lecornu, que é contestado ainda antes de estar constituído.
"Hoje estamos aqui contra o nosso governo por causa da supressão de dois dias de férias. Eu trabalho na saúde social, então acho que se deve salvar a segurança social, encontrar médicos, tratar pacientes. Dar mais dinheiro à saúde para que tenhamos saúde de qualidade para todos", disse à Lusa Patricia Ficher, de 53 anos.
A funcionária defendeu um "orçamento que tenha em conta a função pública, a nível de saúde, educação, serviços de ordem" e para, acima de tudo, "salvar a segurança social".
A manifestação, que reunia várias reivindicações, começou às 14:00 horas (13:00 de Lisboa) e percorreu um trajeto de cerca de dois quilómetros, ficando marcada para altercações com os agentes de segurança espalhados pela cidade, com carrinhas e carros blindados, incluindo camiões com canhões de água.
"Estou aqui para manifestar a minha desconfiança contra o governo e a repressão", disse Nina, de 29 anos, atriz em Paris, defendendo também a queda do novo Governo.
Nos vários momentos de tensão com a polícia de choque, manifestantes gritavam ser "antifascistas" e "todos odeiam a polícia", enquanto lançavam petardos contra a polícia e partiam paragens de autocarros e vidros de lojas.
O cortejo contou com dezenas de carrinhas dos sindicatos, com alguns militantes a lançar tochas de fumo e incendiar caixotes do lixo e outros apenas a gritar e segurar cartazes com frases como "juntos contra a austeridade", "Macron demissão, greve geral para bloquear tudo", "Palestina livre" e "taxar os ricos".
"Não faz sentido a França continuar como está. Tem de haver uma sexta república porque não há futuro se continuarmos assim", disse Ledi, de 61 anos, que trabalha na gestão de uma associação e tem poucas esperanças sobre o novo executivo.
"Apesar de Lecornu já estar a mostrar algumas diferenças na forma como quer governar, é a continuação dos anteriores. Será mais macronismo", considerou.
Para Antoine, de 27 anos, ajudante de cozinha, a principal exigência deste protesto é "acabar com o fascismo", referindo que o país deve seguir "o exemplo do Nepal".
"Eles não se preocupam mais, estão livres, não é só tirarem-nos um ou dois dias de feriado para nos demover e acalmar", afirmou Antoine, reiterando "uma mudança total" com a demissão do Presidente, Emmanuel Macron, e mudança na república.
Pascoal, de 46 anos, disfarçado de uma campa de "Cemitério do pai Macron" defendeu que "o país tem muito potencial", mas que tem de terminar com as "políticas de capitalismo e injustiça social", referindo que acredita que Lecornu é "a continuação das mesmas políticas" e um "primeiro-ministro debaixo de fogo".
O protesto, apoiado pela maioria dos sindicatos, tinha sido convocado no final de agosto contra o pacote de cortes que o Governo do ex-primeiro-ministro François Bayrou preparava para 2026 para reduzir o elevado endividamento do país e cumprir os compromissos orçamentais com a União Europeia, com um plano de cortes de quase 44 mil milhões de euros.
O novo chefe de Governo, o quarto em apenas 12 meses, não deu pistas sobre o tipo de medidas que pretende implementar no projeto orçamental, que deve apresentar antes de meados de outubro, mas promete "mudanças profundas" para tirar a França da crise.
Na capital francesa, o comércio teve um dia mais parado, pelo menos nas ruas por onde a manifestação passou, com vários estabelecimentos e ruas fechados. Também os metros estão parados durante todo o dia, com exceção das linhas automáticas.
Na capital, a polícia teve de intervir para impedir a invasão de um banco, disparando granadas de gás lacrimogéneo quando foi atacada por pedras e garrafas, e fazendo detenções de manifestantes.
Em todo o país estavam previstos mais de 250 cortejos, com uma previsão de participação de 900.000 pessoas, segundo as autoridades, que receiam a ação de grupos antissistema considerados violentos, como os "Black Blocs".
Pelo menos três pessoas ficaram feridas e 140 foram detidas hoje em França.