Alemanha em turbulência: risco para a Europa
A economia italiana arrasta-se há duas décadas e permanece vulnerável à incerteza global
Numa frase que poderá trazer flashbacks a todos os que se lembram do período entre 2008 e 2012, está na altura de nos preocuparmos com a saúde da economia alemã.
É comum ouvirmos que a Alemanha é o motor da Europa. Assim, a notícia de cortes de cerca de 125 mil postos de trabalho torna essencial perceber a causa e o possível impacto nas restantes economias.
A redução concentra-se sobretudo na indústria – automóvel, siderúrgica e logística. O setor automóvel, pilar da economia alemã, foi impactado pela concorrência chinesa e pela transição mal gerida para veículos elétricos, onde a China – com o auxílio de uma forte intervenção estatal que subsidiou indiretamente muita da indústria chinesa perante a passividade da UE.
A logística, dependente da atividade industrial, acompanha naturalmente este abrandamento.
Mais surpreendentes são os cortes nos setores de finanças e tecnologias, com o Commerzbank e a SAP a anunciarem cortes substanciais de postos de trabalho. Especialistas alertam, cautelosamente, que estes cortes podem ser apenas o início.
Resta perceber se estes cortes resultam de fatores internos à Alemanha ou se refletem pressões externas que poderão afetar toda a União Europeia.
A transição energética, aliada ao aumento dos preços da energia após a invasão russa da Ucrânia, tem colocado pressão acrescida sobre a indústria automóvel alemã.
A concorrência global, as más condições setoriais e a fragilidade do mercado europeu, somadas à rigidez da economia alemã, população envelhecida e configuração sindical, tornam qualquer mudança difícil.
Para a Alemanha, estas disrupções levarão a um aumento do desemprego, perda de valor na sua maior indústria e exacerbar a crise política europeia caso seja o empurrão que faltava à extrema direita alemã para chegar ao poder. Para a Europa há o risco de propagação já que as economias europeias são altamente integradas.
Não é apenas a Alemanha a dar sinais de fragilidade. Nos EUA, os dados de emprego têm sido desapontantes e revistos, sucessivamente e retroativamente, em baixa, sugerindo que um abrandamento global pode estar em curso.
Em teoria, a União Europeia poderia compensar choques nacionais através de economias em ciclos distintos. Na prática, as maiores economias europeias mostram-se alinhadas na mesma trajetória de estagnação.
A economia italiana arrasta-se há duas décadas e permanece vulnerável à incerteza global e às tarifas impostas por Trump. A francesa mostra alguma resiliência, mas enfrenta riscos ligados à instabilidade política, envelhecimento demográfico e falta de financiamento das reformas e pensões.
Uma quebra pronunciada destas economias poderá ter efeitos significativos em países com mercados internos limitados, como Portugal e a Madeira, onde as ameaças superam, por agora, as oportunidades.