Espera por consulta de psiquiatria chega a meio ano?
Na sequência da reportagem publicada ontem pelo DIÁRIO sobre o estado da saúde mental, recebemos a mensagem de uma leitora assídua, a quem chamaremos Maria Abreu. Indignada, garante que conseguir uma consulta de psiquiatria no sector privado pode demorar mais de seis meses, que na Região existem apenas nove médicos psiquiatras em actividade, que os seguros de saúde continuam a excluir esta especialidade e que o Hospital Dr. Nélio Mendonça dispõe de poucas camas para internamentos de agudos.
As afirmações levantam questões pertinentes, mas a realidade é mais complexa. Desde logo, não existem apenas nove psiquiatras na Madeira. Esse é o número de profissionais ao serviço do SESARAM. Porém, em clínicas privadas, hospitais ou consultórios particulares, há mais especialistas disponíveis, ainda que dispersos.
Também a ideia de que no privado se espera meio ano por uma consulta não corresponde, em regra, à realidade. Acedendo a portais de marcação online, o DIÁRIO verificou que é possível obter vaga já no mês seguinte, havendo inclusivamente casos em que, devido a desistências, a consulta pode acontecer antes. O cenário é distinto no sector público: só em 2024 foram realizadas mais de 15.200 consultas de psiquiatria, mas no final do ano permaneciam 367 doentes em lista de espera. O SESARAM reconhece a necessidade de contratar mais dois especialistas, o que ajuda a explicar a demora no agendamento — embora o tempo dependa sempre da gravidade clínica.
Outro ponto sensível prende-se com os internamentos. O Hospital Dr. Nélio Mendonça não dispõe de camas dedicadas a psiquiatria. Os doentes são encaminhados para as casas de saúde de São João de Deus, no caso dos homens, e para a Câmara Pestana, no caso das mulheres. Através de protocolo com estas instituições, assegura-se a resposta em situações de maior gravidade.
Por fim, a questão dos seguros. Se em tempos a exclusão da psiquiatria era prática comum, hoje a tendência inverteu-se: grande parte das companhias já contempla consultas desta especialidade, embora sujeitas ao tipo de cobertura contratada. No caso da psicologia, a maioria dos planos prevê um número limitado de sessões anuais, com vários profissionais já integrados nas redes clínicas das seguradoras.
Em síntese, Maria Abreu dá voz a preocupações que reflectem a percepção de muitos utentes. Mas o retrato não é linear. O sector privado oferece mais alternativas do que se supõe, o público continua sob pressão e os seguros evoluem para uma cobertura mais ampla. A saúde mental na Madeira está longe de ser um terreno pacificado, mas também não é um deserto.