Feiras e conversas de livros e leitores

Vão-se realizando feiras de livros por todo o país e, no Porto, a partir de 22. Ainda bem. Lembrei-me por isso destas conversas. Há uns anos, tinha um livro sobre vida religiosa para publicar e o amigo disse-me que o livro não devia ser assim, e lá se conversou, que assim não seria lido, etc. Noutra altura, doutro a ser publicado, dizia um conhecido que não era o livro que se precisava, nem devia ter o título que eu lhe dava. O assunto tinha sido pedido para um curso de voluntariado. Esse amigo entendia que era mais conveniente que o termo católico não constasse do título, etc.

Será que no Ocidente atual têm de seguir a moda do secularismo e laicismo? Experimente o leitor captar as diferenças dos conceitos de “religiosos”, “cristãos”, “evangélicos” e “católicos”. Que diferenças! Tudo na História e no viver social se compreende melhor se tudo for lido à luz de Cristo como seu código de leitura. Terão os assuntos de ser mais ao gosto dominante dos possíveis leitores do que os autores consideram importante dizer? E que doutro modo não se vendem. Será? De todo o modo, as narrativas bem tecidas vendem mais se puxarem para baixo, para os prazeres, as más paixões, e não quando apelam para os valores e ações que elevam o viver humano.

Se perguntarem se já me pediram para escrever artigos ou livros sobre este ou aquele tema. Sim, diversas vezes. Mais, artigos e ensaios que livros. Um dos assuntos foi sobre aspetos psicológicos da revolução do “25 de abril”; para outra revista foram temas sobre a família. Um outro tema para uma revista foi o alcoolismo em doze perguntas e respostas. E, doutra vez, um livrinho técnico simples, também sobre o mesmos problemas, bem atuais, que a editora publicou e se terá esgotado. Mais artigos foram sobre viagens e emigrantes pelo mundo.

Outro livro que me foi pedido como ensaio foi sobre luto, viuvez, novos projetos de viuvez que além dos capítulos técnicos teve diversos conteúdos baseados nas respostas a um questionário aberto a viúvas (quase não havia viúvos) nos grupos do movimento (MEV) com que me pediram para dar um contributo na formação desses grupos. Teve edições em italiano e espanhol. Pediram outros livros didáticos sobre psicologia que acabaram por ter várias edições, uma, em espanhol, na Colômbia, e a biografia de um missionário para o processo de beatificação. A maior parte, porém, foi de iniciativa pessoal com algum apoio.

Quanto a ser compensado com a venda ou direitos de autor há quem pense que é uma mina! Nada disso. Há quem ganhe muito dinheiro com livros quando se trata de romance e o livro tem alguma qualidade, mas para vendas só com grandes máquinas promocionais a “empurra-lo” para os ávidos de literatura de aeroporto, como por vezes se chama ao género. A propósito, lembro-me de uma conversa que tenho tido com amigos. Há livros que são lidos por muitos logo que saem, outros, são lidos mais tarde, passados anos. Fala-se dos que têm poucos leitores, se é que chegam a despertar interesse. Alguns, porém, podem vir a ser lidos séculos depois de publicados, como curiosidades ou como tesouros esquecidos. Quem é que não gostaria de ler, por exemplo, algumas cartas de combatentes da batalha de Lepanto, escritas a pessoas das suas famílias sobre o que viveram nessa batalha; ou ler as notas de S. Lucas das suas leituras de pergaminhos gregos de práticas médicas?

A propósito dos escritos bíblicos do Antigo e Novo Testamentos, pelo facto de ser literatura religiosa e cristã, não faltam aqueles que consideram alguma dela dependente da literatura grega antiga e de menos interesse. Em tempos, ao ler Vittorio Messori (Hipóteses sobre Jesus, 1987), livro traduzido em 14 línguas que vendeu mais de um milhão, escrevi esta nota: “a Bíblia não mostra Deus como cientista a explicar como a água sobe do solo, se torna seiva e sobe pelos capilares das raízes, troncos e ramos até às folhas, flores e frutos. Está cheia de narrativas não científicas nem anticientíficas. Nada nela constrange a aceitar Deus escondido que se revela no amor quando quer e a quem quer, quando alguém menos espera. Jesus no caminho de Emaús tornou-se o decifrador inesperado da experiência dos discípulos”. Nem se esqueça: a Bíblia está editada em mais três mil línguas, algumas só parte, mas o seu sentido precisa do seu Leitor principal, Jesus Cristo. A seguir a ela vem o Principezinho com cerca de 500 traduções.

Aires Gameiro