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Apesar da crise, luso-venezuelanos levam iguarias portugueses para a mesa de Natal

Lourdes Silva, doméstica, viu recentemente os seus planos mudarem drasticamente. Depois de cinco anos sem visitar a Madeira, programou a viagem, mas a suspensão dos voos directos para Portugal e o aumento dos preços das passagens obrigaram-na a desistir

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Foto Shutterstock

Contornando a crise política, económica e social na Venezuela, os portugueses continuam a levar para a mesa de Natal uma mistura de iguarias locais e lusas, em quantidade que varia segundo a 'algibeira' e o tamanho das famílias.

"O bacalhau continua a ser o rei, mas agora com menos fartura e doses mais reduzidas. É difícil, mas é preciso manter a tradição pelo menos no Natal", explicou um português à agência Lusa.

Comerciante de profissão, Carlos Rebolo explicou que há alguns anos o bacalhau, as filhós, as broas de mel e a carne vinha d'alhos enchiam quase em exclusivo a mesa em tempos da festa.

Agora, estão em pé de igualdade com a gastronomia local, como o pernil de porco, o doce de papaia, o pão de fiambre e a "hayaca", um preparado de massa de milho recheada de carnes e cozida em folhas de plátano.

"A inflação tem feito subir muito os preços. O bacalhau está entre 50 e 65 dólares o quilograma, dependente da origem e da qualidade, por isso a carne de porco e de vitela, que custa uns 15 dólares o quilograma, estão a ganhar lugar", explicou.

Mas, apesar das dificuldades, há três anos que Maria Castro faz broas de mel para vender a portugueses e a alguns supermercados.

"A procura começa já em outubro. Os portugueses têm sempre alguma coisa da sua terra na mesa do Natal, talvez já não em tanta quantidade como antes, mas mantêm a tradição", disse.

A costureira Lucinda Gomes lembra as grandes reuniões familiares do passado, antes ainda de os dois filhos e vários amigos terem emigrado.

"O Natal era sempre tempo de algazarra, desde os preparativos da ementa, que começa dias antes, ao ambiente na cozinha. Agora tudo é mais reservado, apenas eu e o meu marido. Graças à tecnologia parece que a distância está mais curta, porque com o telefone nos vemos, por vezes parece que estamos quase lado a lado", disse.

Lourdes Silva, doméstica, viu recentemente os seus planos mudarem drasticamente.

Depois de cinco anos sem visitar a Madeira, programou a viagem, mas a suspensão dos voos diretos para Portugal e o aumento dos preços das passagens obrigaram-na a desistir.

"Há voos regionais que são quase tão caros como uma viagem a Portugal. Os reembolsos ainda não foram feitos e os preços dispararam e não apenas por ser 'época alta'. Optei por deixar para o próximo ano, com a esperança de recuperar o dinheiro e conseguir algo mais em conta", disse.

Vários comerciantes explicaram à agência Lusa que, nos últimos dias, os estabelecimentos comerciais de Caracas têm registado mais presença de pessoas à procura do que levar para a mesa de Natal e de presentes.

No entanto, salientaram, "a economia está ressentida".

"Há mais pessoas que entram e saem dos centros comerciais e, com exceção de algumas lojas, há vendas, mas menos que em anos anteriores. As pessoas queixam-se dos preços, de que tudo sobe de dia para dia e que o dinheiro não rende", explicou o comerciante Carlos Meneses.