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Jorge Pinto apela ao voto dos socialistas indecisos e do "eleitorado desesperado" de extrema-direita

Foto TIAGO PETINGA/Lusa
Foto TIAGO PETINGA/Lusa

O candidato presidencial Jorge Pinto apela ao voto dos socialistas que "ainda não sabem em quem votar" mas também ao "eleitorado desesperado" que tem votado na extrema-direita, acreditando que pode vir a ser uma surpresa a 18 de janeiro.

"Para aqueles socialistas, e são muitos, que continuam sem saber em quem votar, continuam sem saber, afinal, porque é que António José Seguro mereceu o apoio do seu partido, a esses eu também falo diretamente para lhes dizer que há outras alternativas à esquerda, como a minha própria [candidatura]", apelou o candidato às eleições presidenciais de 18 de janeiro, em entrevista à agência Lusa.

Jorge Pinto manifestou-se confiante de que existem muitos socialistas "que gostariam de ter um candidato no qual se revissem verdadeiramente", depois de o PS ter apoiado oficialmente António José Seguro, e apelou diretamente a esse eleitorado.

Interrogado sobre se vê um eleitor de direita a votar em si, Jorge Pinto disse que sim e argumentou que um Presidente da República "tem de ser capaz de falar e apelar a todos os cidadãos" mas isso não o obriga "a esconder" quem é.

Além dos socialistas, Jorge Pinto quer falar "àquele eleitorado que está desesperado, que tem votado na extrema-direita, que tem alinhado até numa retórica antissistema e antidemocrática".

"A essas pessoas eu quero falar diretamente com elas, olhos nos olhos, e dizer-lhes que há esperança, há esperança de mudar o país para melhor sem termos de destruir tudo aquilo que nós construímos", apelou.

Numa eventual segunda volta com a participação do líder do Chega, Jorge Pinto comprometeu-se a apoiar qualquer outro candidato, sustentando que "é impensável termos um Presidente da República que quer acabar com a própria República".

O dirigente do Livre manifestou-se convicto de que pode vir a ser uma surpresa na noite eleitoral e, "se a comunicação social" lhe der "tanto destaque" como dá a André Ventura, acredita ser possível passar a uma eventual segunda volta.

Questionado sobre se daria posse a um Governo do Chega, o candidato respondeu que a sua interpretação dos poderes constitucionais será a mesma ganhe o partido de Ventura ou outro, rejeitando posições extremadas.

O deputado salientou que a Constituição não obriga que o partido mais votado seja o que forma executivo, e que vai priorizar "ter um Governo que seja o mais estável possível, mas sobretudo que seja o mais democrático possível".

Sobre a sua promessa de dissolver o parlamento e convocar eleições caso o país esteja perante uma "revisão drástica" da Constituição feita pela direita e extrema-direita, Jorge Pinto detalhou que o fará se estiverem em causa alterações ao atual sistema semipresidencialista, a "liberdades, direitos e garantias", "proteção dos trabalhadores" ou "proteção do meio ambiental".

Considerando que o chefe de Estado tem que ser "um contrapeso democrático", Jorge Pinto insistiu na importância de ter partidos de ambos os espetros políticos envolvidos numa eventual alteração à Lei Fundamental e afirmou que teria a mesma postura caso a revisão fosse unicamente protagonizada pela esquerda.

Para o candidato presidencial, é importante que os portugueses se pronunciem sobre a matéria caso o tema não tenha sido abordado em campanha.

Assumindo-se como um "defensor da democracia representativa", Jorge Pinto propõe a realização de "assembleias cidadãs", com portugueses selecionados "de forma aleatória", sobre temas como a regionalização ou outros, de onde sairiam potenciais ideias para projetos e propostas de lei.

O candidato sublinhou que este tipo de iniciativas, que pretende dinamizar em Belém, "são a melhor e mais eficaz maneira" de ouvir os cidadãos, "e de lhes dar uma voz que muitas vezes lhes é negada".

Jorge Pinto, que tem 38 anos -- apenas mais três do que o limite mínimo legal para uma candidatura a Belém -- rejeitou que a sua falta de experiência política (é deputado há cerca de dois anos) ou idade o prejudiquem, considerando que é uma vantagem.

"Que idade tem o novo presidente da Câmara de Nova Iorque? Que idade tinha Salgueiro Maia quando liderou as tropas no 25 de Abril? Que idade tinha Ramalho Eanes quando foi eleito Presidente da República? Tudo pessoas ou da minha idade, ou mais novas, ou ligeiramente mais velhas", apontou.

Natural de Amarante, no Porto, Jorge Pinto desafiou as pessoas a deixar "paternalismos de lado", apresentando-se como "uma voz nova, um sotaque novo" e "uma presença diferente".

Desistir a favor de Seguro mas desafia-o a posicionar-se à esquerda

O candidato presidencial Jorge Pinto admite desistir da corrida a Belém a favor de António José Seguro, desafiando-o a esclarecer o seu posicionamento ideológico, mas exige reciprocidade se a sua candidatura crescer.

"O que disse e reafirmo é que há condições mínimas para considerar uma qualquer convergência de candidaturas, ou uma desistência, se assim quisermos. Desde logo é para que seja um projeto para um candidato de esquerda, e que não tenha vergonha de o dizer, que não ache que a esquerda é uma gaveta", criticou Jorge Pinto, candidato às eleições presidenciais de 18 de janeiro.

Em entrevista à agência Lusa, o candidato apoiado pelo Livre frisa que não lhe "passa pela cabeça" neste momento desistir, mas admite esse cenário perante determinadas condições: que o candidato em causa seja de esquerda e esteja alinhado com o "pacto republicano" que propôs, em áreas como a saúde ou a habitação.

O deputado desafia os seus adversários à esquerda para que se comprometam a desistir a seu favor caso a sua candidatura seja a mais bem posicionada para uma eventual segunda volta, considerando que "isso é o mínimo".

"Se a minha [candidatura] começar a crescer, se a minha começar a ter uma dinâmica de vitória, então também quero que lhes seja colocada essa pergunta se eles próprios estão dispostos a desistir a meu favor", deixa o repto.

Além de Catarina Martins, apoiada pelo BE, e de António Filipe, pelo PCP, Jorge Pinto não exclui António José Seguro, ex-líder do PS, do leque de potenciais candidatos à esquerda pelos quais poderia desistir, mas convida-o a posicionar-se publicamente à esquerda.

"Julgo que António José Seguro será de esquerda: é antigo secretário-geral do maior partido de esquerda da nossa democracia. Se ele tem vergonha de ser de esquerda, ou se acha que ser de esquerda é ser colocado numa gaveta, o problema é dele", critica.

Jorge Pinto, que antes de fundar o Livre foi militante do PS e se desfiliou em 2013, quando Seguro era líder socialista, socorre-se da carta de desfiliação que endereçou ao largo do Rato para justificar que o seu posicionamento não mudou.

Nessa carta, Jorge Pinto alertava para um "desfasamento entre os partidos e a sociedade, que será perigosíssimo para os partidos e para a própria sociedade" e escrevia que continuaria a ser socialista, mas seria "mais útil" fora do PS.

"Eu não mudei, eu estou exatamente no mesmo sítio. Que o PS ou algumas pessoas como António José Seguro achem agora que é melhor falar com 'passistas', achem que é melhor agora falar para a direita, ou eles próprios não se considerarem como esquerda, o problema está do lado deles", atira, definindo-se como "a candidatura da esquerda democrática que não é apoiada por Pedro Passos Coelho".

Para Jorge Pinto, Seguro "tem de ser muito mais claro em relação àquilo que quer fazer e àquilo que quer ele próprio ser nesta campanha".

O deputado do Livre duvida de que qualquer outro candidato, além destes três, esteja disponível para se assumir de esquerda mas aproveitou a ocasião para criticar Henrique Gouveia e Melo, "que um dia é de direita e outro de esquerda", afirmando que poderia "entrar no jogo" se aceitasse estas condições.

Jorge Pinto rejeitou que o Livre esteja a ir contra o seu ideal de defender consensos à esquerda ao apoiar a sua candidatura e salientou que "não é filho de um Deus menor" para que não se possa candidatar à Presidência da República.

Criticando os restantes candidatos à esquerda por não terem esperado que surgisse um nome agregador ou aceitado participar em "primárias abertas a toda a cidadania", o dirigente do Livre disse acreditar que é "o candidato que tem mais vontade de ganhar esta eleição".