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Madeira

Presidente da ARM alerta para o “valor real da água” e necessidade de tarifas sustentáveis

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O presidente da Águas e Resíduos da Madeira (ARM), Amílcar Gonçalves, participou esta manhã, no Fórum ‘O Valor da Água’, onde apresentou uma síntese histórica da evolução do sistema hídrico da Madeira, destacando o percurso “de séculos de esforço, engenho e trabalho colectivo” que permitiu à Região construir uma das redes de abastecimento mais complexas do país.

Na sua intervenção, recordou momentos-chave, desde os primeiros conflitos pela gestão da água, passando pela criação da Comissão Administrativa em 1939, até à modernização tecnológica que hoje permite monitorizar, em tempo real, centenas de infraestruturas. Entre dados técnicos e referências históricas, sublinhou a dimensão “exigente e dispendiosa” de um sistema que envolve captações, levadas, condutas, reservatórios, energia e análises laboratoriais, assegurado diariamente por centenas de profissionais.

À margem do fórum, Amílcar Gonçalves explicou o objectivo central do encontro. “Este era um fórum que já queríamos fazer há imenso tempo com o objectivo de sensibilizar a população e os responsáveis políticos para o verdadeiro valor da água”, afirmou.

Lembrou que, sendo um recurso essencial e omnipresente no quotidiano, “as pessoas muitas vezes esquecem-se dos custos associados a garantir que a água chega às torneiras com qualidade e segurança”. Reforçou que, ao contrário da percepção generalizada, “na Madeira nunca foi um dado adquirido ter água” e que, ainda hoje, captar e distribuir este bem implica um processo complexo, fragmentado e altamente dependente das características da ilha. “Temos de quase garimpar a água, ela é captada em inúmeras origens, principalmente a norte, e conduzida até chegar às casas das pessoas”, frisou.

O presidente da ARM destacou a importância das tarifas na sustentabilidade do sistema, sublinhando que estas não servem apenas para valorizar o recurso, mas também para assegurar capacidade de investimento futuro. “Os fundos europeus foram preciosos, mas não vão durar para sempre. Vamos ter de viver com as nossas próprias possibilidades”, afirmou. Posto isso, defendeu que a actualização gradual das tarifas é inevitável e “congelar tarifas cria uma ilusão junto da população e distancia-nos do valor onde devíamos estar. Um aumento gradual, explicado e fundamentado, é mais responsável e melhor compreendido”.

Amílcar Gonçalves lembrou ainda que as alterações climáticas tornam o sistema mais caro, exigindo mais bombagens e consumo energético, sobretudo nos meses de verão. Questionado sobre a percepção pública, garantiu que os madeirenses “percebem melhor do que se pensa” a necessidade de ajustes. “A água continua a ser, de longe, a factura mais baixa das famílias, muito abaixo da eletricidade, dos telemóveis ou da internet. E ainda assim falamos de três serviços, água, saneamento e resíduos, incluídos numa única conta.”

Concluiu defendendo uma mudança de atitude colectiva, como conhecer o sistema, entender o seu custo real e abandonar a ideia de que a água “vem da parede”. “A água não pode ser de borla. Tem um custo, e é um custo aceitável. O futuro depende da responsabilidade de todos, porque as gerações que vêm a seguir vão pagar as decisões que tomarmos hoje.”