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Carros “vítimas de inundações” no mar não devem voltar a circular?

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Foto DR

Um automóvel ficou parcialmente submerso no mar, na madrugada desta terça-feira, na Praia Formosa. O condutor, um jovem de 20 anos, conseguiu sair pelos próprios meios, não necessitando de qualquer assistência médica. Esta notícia foi avançada ontem pelo DIÁRIO e rapidamente surgiram diversos comentários nas redes sociais.

Entre as dezenas de comentários existem vários que alertam que o veículo deve ir para “abate" ou“lixo”.

Jovem de 20 anos estava no interior do carro que caiu à água

A vítima conseguiu sair do veículo pelos próprios meios

Andreia Correia , 25 Novembro 2025 - 11:20

Será que os veículos que sofrem inundações não devem voltar a circular?

A água salgada pode ter efeitos prejudiciais para um carro, principalmente pelas suas propriedades corrosivas. Em pesquisas on-line são diversos os artigos que relatam as consequências que um carro pode ter ao ser exposto a água salgada.

A corrosão pode enfraquecer a integridade estrutural do veículo, danificar a parte inferior da carroçaria, o sistema de escape, os travões e também os sistemas eléctricos.

Além dos problemas estruturais pode levar a deterioração da pintura.

A plataforma on-line ‘ShunAuto’, especializada em fornecer informações e análises sobre automóveis e todos os tipos de transporte, explica sobre os impactos da água salgada nos veículos.

A exposição à água salgada é particularmente prejudicial aos veículos devido à sua capacidade de acelerar a corrosão, um processo que compromete a integridade estrutural e a aparência dos componentes metálicos.

“Ao contrário da água doce, a água salgada contém sais dissolvidos, principalmente cloreto de sódio, que intensificam significativamente as reações electroquímicas que levam à formação de ferrugem”, refere a plataforma, acrescentando que quando em contacto com a água salgada esta pode penetrar em pequenas frestas e áreas porosas do metal. “Isso cria um ambiente ideal para a corrosão, pois os sais actuam como electrólitos, facilitando a transferência de electrões entre o metal e o ambiente circundante.”

Outro factor apontado é que na corrosão induzida pela água salgada ela acaba por atrair e reter humidade. “Isso é especialmente problemático em áreas escondidas do carro, como a parte inferior da carroçaria, os pára-choques e as juntas das portas, onde a água salgada pode ficar retida e passar despercebida. Com o tempo, essa exposição persistente à humidade, combinada com as propriedades electrolíticas da água salgada, leva à formação de ferrugem, que enfraquece o metal e pode causar falhas estruturais se não for tratada.”

Pode também causar sérios danos no sistema eléctrico de um carro, resultando em reparos dispendiosos e potenciais riscos à segurança.

“Em caso de exposição à água salgada, é necessário agir prontamente para minimizar os danos. O primeiro passo é enxaguar bem as áreas afectadas com água doce e secá-las em seguida. No entanto, devido à complexidade dos sistemas eléctricos automotivos modernos, é recomendável buscar assistência profissional. Técnicos qualificados podem realizar inspecções detalhadas, identificar corrosão oculta e empregar técnicas especializadas para restaurar ou substituir componentes danificados, garantindo o funcionamento confiável e seguro do sistema eléctrico do veículo”, refere ainda.

Em suma, o que pode acontecer ao veículo é:

  • Corrosão acelerada: chassis e estrutura metálica, travões, parafusos, soldaduras e componentes de suspensão. Mesmo depois de seco, o sal fica entranhado e continua a corroer com o tempo;
  • Sistema eléctrico e electrónico: Este é um dos pontos mais críticos e pode resultar em curto-circuitos, sensores danificados, comprometer centralina, falhas intermitentes difíceis de diagnosticar. Alguns problemas podem aparecer semanas ou meses depois;
  • Motor e transmissão: Se a água salgada entrar no motor pode causar danos graves, há risco de contaminação de óleos e risco de gripagem e desgaste interno acelerado;
  • Interior do carro: corrosão em estruturas internas, mau cheiro persistente, mofo e bactérias, danos nos airbags, cintos e sistema de segurança. Mesmo com limpeza, é complicado limpar totalmente o sal:
  • Travões: Discos e pinças oxidam, perda de eficiência e risco os travões prenderem ou falharem.

Também a página on-line ‘AutoSapo’ alerta, através de um artigo, que “se um automóvel foi submerso em água salgada, a corrosão será mais grave do que num automóvel que sofreu uma inundação de água doce.”

Segundo um especialista da carVertical, referenciado no mesmo artigo, “um automóvel danificado por uma inundação pode não só acarretar custos elevados de reparação, como também não ser seguro para conduzir. É melhor evitar estes veículos, por muito bons que pareçam por fora”.

O mesmo especialista dá ainda conta que os contactos afectados pela corrosão podem causar problemas eléctricos meses depois, mesmo quando o carro foi reparado “na perfeição”. “Isso não significa que não venha a revelar-se uma grande dor de cabeça mais tarde.”

Assim sendo, tendo em conta a análise feita, não é recomendado a condução dos veículos que tenham ficado submersos na água do mar.

Mesmo quando são alvo de intervenções e que aparentam ligar e funcionar sem problemas, é necessário ter em atenção que a água salgada corrói metais rapidamente, a parte electrónica pode falhar, o motor e a transmissão podem ter água misturada com óleo, causando desgaste ou gripagem e o interior, travões e sistemas de segurança podem ficar comprometidos.

"Carros vítimas de inundações e ainda por cima com água salgada, não devem voltar a circular pelo perigo que representam para a segurança rodoviária" - Comentário de um leitor