Entre flores e memórias
Câmara de Lobos cumpre a tradição no Dia de Todos os Santos, com fé, saudade e contas apertadas.
No cemitério de Câmara de Lobos, o Dia de Todos os Santos faz-se entre flores, velas e memórias. Desde cedo, há quem chegue com ramos de crisântemos e quem apenas traga o silêncio. Este ano, o feriado coincidiu com sábado, mas a tradição manteve-se viva, antecipando as homenagens do Dia de Finados.
“Tem muito significado vir aqui”, diz Sónia Santos, que visita o túmulo do pai falecido há quatro anos. “Venho duas vezes por mês. É a maneira de ele não estar só.” Natural de Câmara de Lobos e agora residente no Caniço, Sónia explica que “muitos vêm no dia 1 porque é feriado — no dia 2, que na maioria dos anos calha em dias úteis (não é o caso deste ano), quase todos estão a trabalhar”.
Entre as campas floridas, Ana Júlia Gonçalves reza em silêncio. Para ela, este é “um dia de alegria”. “Lembro-me dos meus entes queridos, rezo por eles e sinto uma paz quando venho aqui”, conta. A moradora da freguesia diz que aprendeu com o padre da paróquia a rezar pelos defuntos entre 1 e 8 de Novembro, ganhando indulgências para a alma dos familiares. “É uma coisa muito boa e eu acredito nisso”, garante.
Nas imediações do portão principal, Graça Gomes organiza ramos na florista onde trabalha há 27 anos. “Normalmente, hoje costuma ser o dia mais forte”, conta. “Antes, a missa das almas era no dia 1 e vinha muito mais gente. Agora, no dia 2, há menos movimento.” Entre o perfume das flores e o som do trânsito, Graça nota outra mudança: “Tudo aumentou. As flores estão mais caras e o poder de compra das pessoas é cada vez menor.”
Ainda assim, o gesto repete-se, ano após ano. “As pessoas vêm porque acreditam que trazer flores e rezar um bocadinho é a melhor forma de lembrar quem amam”, diz Graça, que entretanto atende mais um cliente.