A Voz do Psicólogo nos Cuidados Paliativos

“Em Portugal, inúmeras pessoas dependem de Cuidados Continuados e Paliativos. No entanto, a intervenção psicológica continua a ser tratada como opcional, porquê?”

Esta visão distorcida ignora uma premissa fundamental: a saúde psicológica é um pilar indiscutível e inseparável da qualidade de vida, nomeadamente em situações de sofrimento extremo e fim de vida.

O sofrimento vivenciado por estas pessoas não é apenas físico. Muitos doentes, confrontam-se com sentimentos de medo, perda de identidade, solidão, inutilidade e ansiedade. O papel do psicólogo é essencial neste território, onde a dor e o sofrimento emocional predominam. Técnicas como a escuta ativa (clínica); gestão emocional; estratégias de coping, ajudam na reorganização face à doença e também, no sentido de controlo possível, resguardando assim a dignidade, mesmo em situações de intensa vulnerabilidade.

O trabalho do psicólogo não se foca apenas no doente, estende-se, por muitas das vezes, à família deste. Os familiares vivem momentos de grande instabilidade emocional. Muitos sentem-se culpados, angustiados e ansiosos, e cabe ao psicólogo intervir, para que a labilidade emocional seja processada de forma adaptativa, com intuito de reduzir o sofrimento da família, mas também melhorar a relação destes com o doente, promovendo um ambiente de empatia e compreensão.

Face a isto, a presença de um psicólogo (pelo menos) na equipa multidisciplinar de Cuidados Continuados e Paliativos, deveria ser encarado como um dogma. Atualmente, lutamos tanto pela promoção da saúde mental em todas as idades, potenciando assim, o bem-estar psicológico e a sua respetiva intervenção.

Porém, quando nos deparamos com a realidade dos Cuidados Paliativos, parece que essa prioridade esvanece. Por que razão, em Portugal, ainda se descarta a presença do psicólogo? Sublinhando que este não é um animador sociocultural; é sim um profissional qualificado, cuja sua intervenção psicológica é validada cientificamente.

A nossa sociedade está pronta para priorizar a saúde mental quando a vida se aproxima do fim? E, será que o psicólogo e a sua intervenção psicológica, nestes momentos, deixará de ser vista como opcional?

Isabel Lima Pereira