Uma enorme contradição

Miguel Albuquerque tem razão quando diz que as “linhas vermelhas” são uma invenção da esquerda, que serviu sobretudo à estratégia de António Costa e do PS na campanha eleitoral de 2022 para prejudicar o PSD, numa tentativa que teve tanto de insidiosa como de pouco democrática de colar o PSD à extrema direita.

O cerne da questão não está contudo nessas pretensas “linhas vermelhas” inventadas pela esquerda e pela extrema esquerda, mas sim na linha que separa as declarações e comportamentos democráticos das declarações e comportamentos anti-democráticos.

Os extremismos de direita e de esquerda caracterizam-se por apoios mais ou menos explícitos a regimes anti-democráticos alguns deles ditaduras puras e duras, liderados por oligarcas/ditadores, onde as liberdades democráticas são fortemente restringidas e/ou eliminadas, onde grassa a corrupção já que os media não têm liberdade para escrutiná-la nem denunciá-la publicamente, os opositores políticos são perseguidos, presos ou mesmo assassinados, mediante julgamentos falseados sem respeitar a Justiça nem os direitos de defesa dos acusados.

O desprezo pela Democracia fica patente sempre que o líder do Chega faz a saudação fascista, com as declarações xenófobas e racistas, ao pretender organizar um encontro em Lisboa com políticos da extrema direita do calibre de Bolsonaro, Trump, Orban e outros, ao proclamar que um dos seus objetivos é acabar com o PSD, quando deputados do Chega proclamam que são fascistas, advogam o fim da liberdade dos media e não hesitam em afirmar publicamente que querem pôr fim ao nosso regime democrático. Qualquer acordo político de incidência governamental com esta gente, ultrapassaria essa linha que deveria separar os que prezam e defendem a Democracia, dos que a desprezam e querem destruí-la.

Fazer acordos com quem despreza a Democracia, ataca o PSD e é “favorável ao centralismo e à extinção das autonomias“, seria anti-democrático, anti-PSD e uma enorme contradição.

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