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País

É preciso responder às "reais necessidades do povo"

Foto PAULO CUNHA/LUSA
Foto PAULO CUNHA/LUSA

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) identifica riscos para o futuro da democracia em Portugal e alerta para a importância de "encontrar formas honestas capazes de responder às reais necessidades do povo e não simplesmente a chavões ideológicos".

"O problema está tantas vezes aí. Joga-se muito com teorias necessárias do ponto de vista económico, do ponto de vista financeiro, do ponto de vista da educação, do ponto de vista da saúde, mas depois é preciso que isso se traduza em soluções", diz o bispo José Ornelas, em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 50 anos do 25 de Abril.

Para este bispo católico, Portugal não é "um país perfeito", no entanto, sublinha que, depois de "viver em vários países", não o trocaria facilmente por outro.

"Mas, acho que nós precisamos de melhorar, segundo aquilo que nós somos, segundo a nossa identidade, a nossa história, que vão crescendo e vão alargando, porque outros estão a chegar e é importante que essa gente que chega tenha gosto de viver neste país", afirma, numa referência concreta aos imigrantes que procuram Portugal para viver.

"Temos de encontrar maneira de resolver essa questão, que hoje é fundamental para todo mundo, que é a solução para um mundo que é cada vez mais generalizado, cada vez mais universalizado, mas que nunca pode deixar de ser o mundo em cada lugar onde se vive, correspondendo às necessidades de quem lá está", afirma.

E perante os que "se proclamam Messias, que têm solução para tudo, e fáceis", José Ornelas é claro: "esses não vão resolver o problema (...). Se as coisas fossem assim tão simples, chegávamos lá cedo".

"Mas é preciso que todos tenhamos realmente a capacidade de participar dentro do sistema. Ser livres e críticos em relação àquilo que apreciamos, àquilo que apoiamos, àquilo que deixamos de lado, para fazermos realmente um mundo que não seja simplesmente à minha medida, mas à medida daqueles que nos rodeiam e para encontrarmos um mundo melhor", acrescenta.

Convicto de que ao "25 de Abril é preciso reinventá-lo cada dia, porque hoje temos problemas que há 50 anos não tínhamos, mas também temos recursos que há 50 anos não tivemos", o presidente da Conferência Episcopal entende ser necessário encontrar "um projeto comum para o país", capítulo onde, acredita, "a Igreja tem um papel importante, sempre teve".

"Eu acho que a Igreja sempre teve um papel importante do qual nunca se desligou, e que pode ser entendido ou não. (...) A Igreja está ao serviço de... tem um projeto que nunca se vai esgotar num partido, numa ideologia, num regime", sublinha José Ornelas.

Para o também bispo da diocese de Leiria-Fátima, "a Igreja tem de estar sempre misturada, amassada com a realidade onde vive, mas tem de estar aí como fermento e como semente, humildemente, mas sem abdicar do seu papel de sonhar e ajudar a sonhar um mundo novo".

"Não tenho de me confundir com um partido, não tenho de me confundir com uma delegação do Estado, nem coisa nenhuma. Eu não sou Estado. Não quero ser, nem é esse o meu caminho, mas tenho um grande amor a este povo e tenho também uma pretensão, isso sim, de trazer alguma solução", enfatiza, reconhecendo: "as pessoas têm ideias diferentes e é interessante ver como tantas vezes se cruzam, mais do que a gente pensa, se nos escutarmos um bocado uns aos outros".

E como está, 50 anos depois do 25 de Abril, a relação entre a Igreja Católica e o Estado?

"Desde que nós ponhamos o povo, que nós queremos servir, como objetivo, nós vamos sempre encontrar caminhos de convergência. Na altura em que estivermos a perguntar-nos [sobre] quem é que ganha mais com esta iniciativa, quem é que fica mais importante, quem é que passa para frente das imagens, nessa altura, entornamos o caldo", responde.

O presidente da CEP faz ainda questão de defender que a Igreja sempre esteve presente, muitas vezes "substituiu o Estado", deixando o desafio de que o Estado "tem de se tornar presente, não simplesmente pela sua autoridade e presença no território, mas, fazendo-se presente através da proteção" a todas as instituições "que trabalham em favor do povo".

"E não falo só da Igreja, falo de tantas outras instituições -- veja-se a saúde, os mais idosos, as crianças, o desporto, enquanto instituições de pessoas que não têm (...) senão o desejo de colaborarem para um mundo melhor. E nisso todos devem ter o apoio do Estado", conclui José Ornelas.