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Ser humanista hoje é condenar Hamas e Israel

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Foto AFP

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, defendeu hoje em Adis Abeba, na cimeira da União Africana (UA), que "ser humanista hoje é condenar o Hamas e Israel".

"O momento é propício para resgatar as melhores tradições humanistas dos grandes líderes da descolonização africana. Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelitas e demandar a libertação imediata de todos os reféns", defendeu Lula da Silva, no discurso que fez na cerimónia de abertura da 37.ª cimeira da UA.

"Ser humanista impõe igualmente a recusa à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30.000 palestinianos, na sua ampla maioria mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população", acrescentou.

Lula da Silva, que interveio a seguir ao primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Chtayyeh, defendeu que a solução para a crise no Médio Oriente "só será duradoura se se avançar rapidamente na criação de um Estado palestiniano livre e soberano".

"Um Estado palestiniano que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas, de uma ONU fortalecida e que tenha um Conselho de Segurança mais representativo, sem países com poder de veto e com membros permanentes da África e da América Latina", considerou.

A União Africana (UA) iniciou hoje, em Adis Abeba, a sua 37.ª Cimeira ordinária, com o Sahel, a instabilidade política e o agudizar de conflitos regionais a porem à prova a sua vitalidade e credibilidade.

Os chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros vão ter de fazer prova de fé na coerência dos princípios constitutivos da UA, que nestes últimos 12 meses foi posta à prova pela turbulência provocada por golpes militares no Sahel, que levou três países -- Burkina Faso, Mali e Níger -, a anunciarem a saída da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

A agitação no Senegal, apresentado como baluarte da democracia e alternância de poder, fez levantar acusações ao Presidente, Macky Sall, de ter perpetrado um "golpe constitucional" para se manter no poder, e os conflitos no Sudão, Líbia e a quase confrontação direta entre a República Democrática do Congo e o Ruanda são outros desafios na agenda de trabalhos de dois dias.

Nesta cimeira deverá ser escolhida a Mauritânia como solução de recurso para suceder às Comores na presidência da UA em 2024.

Lula da Silva defendeu reorganização das instituições multilaterais

O Presidente brasileiro defendeu também a reorganização das instituições multilaterais, com o reforço da presença dos países do Sul global.

"Precisamos criar uma nova governança global, capaz de enfrentar os desafios do nosso tempo. A multipolaridade é um componente inexorável e bem-vindo ao século XXI", afirmou.

Lula da Silva, que foi um dos convidados para participar na 37.ª cimeira da UA -- que termina no domingo na capital etíope -, salientou que sem os países em desenvolvimento "não será possível a abertura de novo ciclo de expansão mundial que combine crescimento, redução das dificuldades e preservação ambiental com ampliação das liberdades".

"O Sul global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta. Crises que decorrem do modelo concentrador de riquezas e que atingem sobretudo os mais pobres e, entre estes, os imigrantes", adiantou.

Para Lula da Silva, a alternativa aos efeitos negativos da "globalização neoliberal não virá da extrema-direita racista e xenófoba".

"O desenvolvimento não pode continuar sendo privilégio de poucos. Só o projeto social inclusivo nos permitirá erigir sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas. Não haverá estabilidade nem democracia com fome e desemprego", antecipou.

O Presidente brasileiro assegurou ainda a disponibilidade do seu país em ajudar África em múltiplas áreas, como a educação, saúde, ambiente, agricultura e ciência e tecnologia, porque, destacou, "com seus mil e quinhentos milhões de habitantes e seu imenso e rico território, África tem enormes possibilidades para o futuro. O Brasil quer e precisa crescer junto com África".

Em seguida, Lula da Silva criticou as instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial), considerando que "agravam muitas vezes as crises que dizem estar a resolver" e obrigam os países em desenvolvimento a garantir o serviço da dívida ao invés de investir em programas de educação e saúde.

"Estas instituições já não ajudam. Pelo contrário, sufocam os países", acusou.

Reconhecendo que o Brasil não tem todos os instrumentos que ele próprio gostaria que tivesse, e que muitos pensam que tem, como dinheiro, conhecimento científico e tecnológico e força, Lula da Silva concluiu disponibilizando "o muito ou pouco que (o seu país) tem" a África.

"Eu quero compartilhar com os países africanos porque nós temos uma dívida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com solidariedade e com muito amor", frisou.

Lula aludiu na sua intervenção à guerra na Ucrânia, a qual, considerou, "não tem solução militar".

"As suas consequências são sentidas em todo o mundo, no preço dos alimentos e de fertilizantes. Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia", defendeu.