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Empresas preocupadas com tensões no Mar Vermelho podem ser forçadas a subir preços

Foto  Skyshark Media / Shutterstock.com
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A Associação Empresarial de Portugal (AEP) reporta "uma forte preocupação" das empresas face à crise no Mar Vermelho, admitindo subidas de preços devido ao "aumento exponencial" do valor dos fretes, enquanto a CIP diz que as próximas semanas "serão decisivas".

"O momento é muito delicado, porque as margens têm vindo a apertar-se cada vez mais na tentativa de responder aos problemas que se sucedem. As próximas semanas serão decisivas para percebermos a profundidade dos impactos", afirmou o diretor-geral da CIP -- Confederação Empresarial de Portugal, Rafael Alves Rocha, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.

Já o presidente do Conselho de Administração da AEP avisa que "o aumento exponencial do preço dos fretes no transporte marítimo não deixará de ser refletido no preço final dos bens, pois a maioria das empresas não terá margem que lhes permita absorver tais acréscimos".

"Além deste aumento transversal previsível, não podemos avançar com casos concretos, mas serão essencialmente produtos provenientes da Ásia ou do Médio Oriente", detalha Luís Miguel Ribeiro.

O dirigente associativo refere que, desde o início das tensões no Mar Vermelho, "a AEP tem testemunhado uma forte preocupação junto das empresas suas associadas", notando que, "para além dos receios na redução das encomendas, os empresários enfrentam já uma subida dos custos operacionais, numa altura em que, simultaneamente, continuam a defrontar um patamar elevado nos custos de financiamento".

"A subida do custo do transporte, o atraso da entrega das encomendas e a disrupção das cadeias de valor globais são fatores que acabam por se refletir nos preços dos consumidores finais", enfatiza.

Luís Miguel Ribeiro acredita que, "no curto prazo", não haverá falhas de abastecimento, até porque "as companhias de transporte marítimo têm vindo a optar, maioritariamente, por uma alteração das rotas e não por um cancelamento": "Apesar do aumento dos custos das matérias-primas e do tempo de entrega, os produtos deverão continuar a chegar, embora com preços mais elevados", sustenta.

Ainda assim, o líder da AEP lembra que "já foram emitidos alertas para a dificuldade de fornecimento de produtos energéticos, nomeadamente gás natural", o que evidencia a possibilidade de ruturas das cadeias de abastecimento caso o conflito alastre.

"A concretizar-se um cenário de intensificação das tensões geopolíticas, a possibilidade de um risco sistémico não deve ser afastado, o que potencialmente afetará toda a economia", admite.

Os setores com uma maior intensidade exportadora são apontados como os mais vulneráveis aos efeitos do conflito, "não só afetados pelos aumentos de preços, mas também por possíveis perdas de encomendas", o que a AEP considera ser "muito preocupante, pois estes setores são, regra geral, os maiores contribuidores para a produtividade e o emprego no país".

Como exemplos, a associação aponta a indústria automóvel, que "denota já algumas dificuldades", com "diversas marcas a optar por parar a sua produção a nível europeu", assim como o têxtil, "já condicionado pela diminuição das suas exportações, face à contenção da procura externa, fruto da conjuntura económica desfavorável sentida na Europa, e com margens de negócio de magnitude insuficiente para absorver o aumento dos preços de transporte sem os refletir no consumidor final".

"Deve ter-se ainda atenção aos setores mais dependentes da Ásia e Médio Oriente e com menor flexibilidade de 'stocks', que serão naturalmente afetados, possibilitando uma eventual escassez ou uma subida abrupta dos preços", acrescenta.

Para a CIP, os dois grandes potenciais impactos da crise no Mar Vermelho passam por, "por um lado, impulsionar a inflação, e, por outro, dificultar ainda mais a necessária recuperação económica da União Europeia e também de Portugal".

"As famílias e as empresas estão muito pressionadas pela taxas de juro e este novo contexto pode atrasar o início do ciclo de descida, o que manterá o rendimento disponível das famílias sob pressão máxima e, por conseguinte, a economia refém desta incerteza", afirma Rafael Alves Rocha.