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Saúde Mental: Sem tabus?

A saúde mental deixou de ser tabu, dizem… Mas o estigma mantém-se. Os problemas de saúde mental são mais frequentes do que se pensa, e a maioria não está devidamente diagnosticada. Muitas pessoas não pedem ajuda e as que pedem, de forma transparente, são muitas vezes alvo de preconceitos e julgamentos.

Os problemas de saúde mental afetam pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Os desafios começam desde tenra idade, onde a sociedade vai tentando moldar e colocar as pessoas do sexo feminino e do sexo masculino em determinadas caixas, ditas “adequadas” à sua condição biológica, mas que quase sempre não correspondem à sua verdadeira essência. Estes estereótipos vão criando barreiras, mais ou menos visíveis – dependendo do contexto familiar, social e cultural – a que os talentos e personalidade sejam expressos de forma saudável e que, consequentemente, que se façam escolhas e se estabeleçam relações interpessoais também saudáveis.

Se formos obrigados/as ser de uma forma, a fazer certas escolhas, a atingir um certo resultado ou a nos encaixarmos num determinado padrão, seja a nível familiar, pessoal ou profissional, e não o conseguirmos porque não somos assim, não queremos ou não é por aí o nosso caminho, isso vai gerar infelicidade e frustração se não tivermos sentimento de pertença. E bem sabemos o quão mais fácil é sermos criticados/as do que elogiados/as.

Nos/as jovens, as comparações e a baixa autoestima conduzem, por vezes, a transtornos alimentares, a depressões e a comportamentos de automutilação, sendo estes mais frequentes nas raparigas. Nos/as adultos/as, no geral, as mulheres sofrem mais problemas de saúde mental, provavelmente pela sobrecarga da dupla jornada de trabalho, pelas múltiplas discriminações que sofrem, por serem a maioria das vítimas de violência doméstica, por serem tradicionalmente as “bombeiras de serviço” na família e por viverem mais tempo e enfrentarem mais a solidão na terceira idade.

No entanto, são as mulheres que procuram mais ajuda médica. Já os homens têm mais dificuldade em assumir que sofrem de um problema de saúde mental, tendendo a resistir mais a procurar ajuda e a desvalorizar a gravidade dos sintomas. A origem poderá estar nos estereótipos que dizem que “os homens não choram, que são fortes e independentes, têm que ter sucesso e não devem deixar transparecer as suas emoções”. Mas a dor fala mais alto e escapa sob a forma de raiva, impulsividade, agressividade e uso de substâncias. E são mais os homens que põem termo à sua vida.

Há que quebrar o estigma, dialogar e escutar mais e julgar menos. Colocar-se no lugar da outra pessoa. Perceber que é necessário trabalhar o autoconhecimento desde tenra idade, assim como a empatia e o respeito por todas as pessoas. Trabalhar a nossa consciência emocional, para que possamos estar mais atentos/as ao que se passa. A vida não é uma cruz, e nós não somos Supermulheres/homens. Somos seres humanos, e está tudo bem não estar sempre tudo bem. Há que procurar ajuda, sem vergonha.