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Porquê a guerra?

Estávamos em julho de 1932, quando o físico, filósofo da ciência e pacifista Albert Einstein, endereça uma carta ao cientista psicanalítico e pacifista Sigmund Freud, onde a motivação, entre outras considerações, era a pergunta: “… existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?” Pretendia que Freud o pudesse esclarecer com o “seu amplo conhecimento da vida instintiva do homem”. A resposta chega em setembro do mesmo ano, na qual o reputado psicanalista, escreve “… os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir - o que denominamos de “eróticos”, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra “Eros” em seu Symposium, ou sexuais, com a deliberada ampliação da conceção popular de “sexualidade”; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo e destrutivo. E continua, “… isto não é senão uma formulação teórica da universalmente conhecida oposição entre amor e ódio, que talvez possa ter alguma relação básica com a polaridade atração e repulsão”. Poderemos ser levados a concluir, observada a correspondência trocada entre estas duas ilustres personalidades, que na base do espoletar da violência e destruição, estarão os traços apontados, que residem na essência do homem? Certo e chocante, é a realidade presente, que esta guerra que resulta da invasão da Rússia à sua vizinha Ucrânia nos provoca, e nos entra através da comunicação social, e diariamente, pela casa dentro, e cuja normalização devemos repudiar, não permitindo que a indiferença se instale. Passados que estão 378 longos dias de guerra no soberano território da república da Ucrânia, interrogo-me também eu, sobre o que levará um ser humano (?) como Vladimir Putin, na qualidade de presidente da federação russa, a ignorar todo o sofrimento e destruição provocados com a sua decisão, de invadir um país soberano vizinho. Os números do conflito esmagam e são arrepiantes no que respeita a pessoas deslocadas, vidas perdidas e feridas. Como resultado, estamos a assistir à maior crise de refugiados desde a segunda grande guerra, estimando-se em cerca de 18.000 milhões de pessoas em deslocações internas e para países europeus. Segundo dados do gabinete do Alto Comissariado para os Direito humanos da ONU, desde o início da guerra, morreram já cerca de 8.000 civis e cerca de 13.000 foram feridos. A frieza e insensibilidade de personalidades deste calibre, têm, evidentemente, uma ou várias causas. Como consequência das razões apontadas por Freud, dar-se-ão as explosões de traumas recalcados e de vária ordem, que de acordo com os especialistas atuais, concorrem paralelamente com fatores genéticos, para que o mau caráter destas pessoas(?) se manifeste, e que, a materialização da crueldade tenha uma dimensão que ultrapassa o inimaginável. Embora a violência e a guerra tenham desde sempre feito parte da aventura humana, e essas realidades se tenham até constituído, como fio condutor do caminho civilizacional da humanidade, um mundo livre de beligerância poderá deixar de ser visto como utópico, pois o que a humanidade tem constatado é que a utopia de hoje, pode transformar-se na realidade do amanhã. É recorrente afirmar-se, que o conhecimento da história é de extrema importância para que não se repitam os erros do passado, mas tal afirmação é apenas meia-verdade, pois é também necessário a promoção com vista à sua instalação, de uma cultura universal de paz, porque as ideias, os conceitos, as visões do mundo, instalam-se antes das armas.