Madeira

"A corrupção não tem só a ver com os que exercem a política, vai muito além disso"

Quem o diz é o coordenador Iniciativa Liberal Madeira, Nuno Morna

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"Normalmente, quando falamos de corrupção, referimo-nos à que é feita em grande escala. Aquela que envolve primeiro-ministros, que vão estudar para Paris, e antigos secretários de estado que fundam bancos e os sugam até à falência. A que leva a nomear para cargos públicos amigos, familiares e correligionários partidários. Mas há-a de outro tipo que muitas vezes é esquecida: a que ocorre em pequena escala", começa por dizer o coordenador da Iniciativa Liberal Madeira, Nuno Morna, através de uma nota de imprensa. 

Este género de corrupção, muitas vezes chamada de “pequena corrupção”, ocorre em milhares de contextos. É o pagamento a fiscais de construção, funcionários e outros burocratas pelos serviços que são obrigados a realizar; é o jeitinho ao amigo; o processo que se vai buscar ao final da pilha; o pedido ao primo do cunhado do amigo, etc. A pequena corrupção envolve pequenos valores, ou não, e ocorre de forma mais ou menos isolada, tem a ver com o abuso diário do poder confiado a funcionários de nível baixo ou intermédio nas suas interacções com os cidadãos comuns. Esta pequena corrupção impõe um pesado fardo financeiro aos indivíduos, especialmente aos de menos recursos que são quem mais a ela recorre".  Nuno Morna 

De acordo com Nuno Morna, "a pequena corrupção está difundida e profundamente arraigada na nossa cultura" e "torna a vida muito mais difícil para os que procuram viver as suas vidas e realizar o que deveriam ser actividades normais".

"A corrupção sistemática cria um desequilíbrio de poder e uma cooperação forçada entre aqueles que exigem o suborno/favor e aqueles que o pagam. A pequena pode não significar o que a grande significa, mas em número de actos é esmagadoramente maior", sustenta. 

Que fique bem claro que a corrupção não tem só a ver com os que exercem a política, vai muito além disso. Pensar que o problema se restringe aos políticos, é enfiar a cabeça na areia e desculpar aqueles que tiram ganhos dos pequenos jeitos que fazem. Para enfrentar esta corrupção endémica, de pequena escala, (mas que tudo somado representa somas enormes), esta deve ser atacada como tendo grande importância".  Nuno Morna 
Tenhamos presente que as razões da corrupção estão profundamente enraizadas na economia e na política, e nunca deixar de ter em consideração que é, também, uma questão cultural. Um favor que se faz a alguém passando por cima do regulamentado, mesmo que não envolva dinheiro, é corrupção".  Nuno Morna 

E acrescenta: "Vê-se muito por aí aqueles que gritam as facilitistas frases do costume contra a grande corrupção, e que são mestres no jeitinho e no favorzinho. Estas coisas têm que ser ditas com clareza. A corrupção espalha-se devido à ignorância e à falta de conhecimento sobre o que ela representa. A partida para a grande corrupção é esta mais pequena, que subverte sistemas legais, políticos, burocráticos e sociais e que ajudam a corrupção a aumentar, passando para outro nível muito maior. Existe uma relação entre a percepção da grande corrupção e a da pequena? Antes de responderem, acreditem que a grande corrupção percebida está significativamente associada à pequena corrupção. Uma existe sustentada na outra. Apesar de normalmente envolver a transferência de pequenas quantias de dinheiro ou mesmo ficando-se só pelos favores, a pequena corrupção tem um enorme impacto, sobre os cidadãos e empresas, e um efeito corrosivo de longo prazo na sustentabilidade do crescimento económico, no ambiente de governança, na capacidade do governo cobrar impostos e no Estado de Direito".

Para que isto deixe de acontecer, diz que "a mudança passa por uma profunda alteração do modo cultural com que olhamos para estas coisas". 

E conclui: "Quem, de entre nós, nunca recorreu a um favor para resolver um problema, seja ele qual for, tenha o alcance que tiver? Serão, certamente, muito poucos os que disso se podem gabar. É quase visceral que assim seja.Abordagens bem-sucedidas para combater esta pequena corrupção mesquinha envolvem o uso de uma combinação de medidas destinadas a reduzir a burocracia, sanções eficazes, reforma do sector público, promoção da detecção e constante fiscalização usando todos os meios disponíveis e recorrendo às novas tecnologias. E, primeiro que tudo, para que se garanta o sucesso, estas abordagens têm de estar apoiadas numa forte vontade política. Que não há".