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O ChatGpt vai roubar os nossos empregos?

Quando o ChatGpt surgiu, no final do ano passado, vozes levantaram-se, preocupadas com a possibilidade da inteligência artificial (AI), em breve, poder tornar muitos empregos obsoletos. O próprio ChatGpt será muito em breve algo arcaico, perspetivando o que surgirá nos próximos anos, e possivelmente mudará inúmeros aspetos das nossas vidas (a Google, enquanto escrevo, acaba de anunciar que em breve irá apresentar o Bard, a sua proposta para “combater” o ChatGPT). Estes receios não são novos e, aquando da revolução industrial, em Inglaterra, alguns movimentos de trabalhadores apregoaram a necessidade da destruição violenta das máquinas, culpando-as pelo desemprego, e inventores foram ameaçados caso criassem novos aparelhos. O grande erro de análise, quer há 200 anos quer agora, poderá estar no foco nas consequências a curto prazo. É certo que, nos últimos anos, várias empresas optaram pela substituição de recursos humanos pelas máquinas e robotização de determinadas tarefas, e um exemplo paradigmático serão os EUA. Mas, pasme-se, os dados relativos a janeiro, divulgados pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, indicam que a taxa de desemprego é a mais baixa desde maio de 1969 – 3,6%.

O que tem sucedido neste tipo de fenómenos, é que as pessoas temporariamente desempregadas por causa de máquinas são realocadas para outro tipo de atividades. O setor dos serviços disparou aquando da mecanização da indústria no séc. XX, e inúmeras outras profissões foram surgindo com a digitalização e automação, como web designer, analista de dados, desenvolvedor de apps. Outras, que ainda nem conseguimos calcular, certamente irão surgir, como consultor/gestor de AI nas mais variadas áreas da sua aplicação. Por outro lado, nos nossos trabalhos, a maior libertação de tarefas rotineiras pode ser uma oportunidade para nos dedicarmos a outras tarefas de ordem maior, e trazermos maior valor para a organização, dedicando-nos mais, e de forma mais eficiente, a outros propósitos. Outro receio é que a AI possa emular as soft skills e a criatividade dos humanos, e substituir empregos e tarefas relacionados. Mas parece-me algo ainda distante. Por enquanto, a melhor arte e criatividade será sempre humana, e acredito que as tarefas que envolvem competências relacionais e emocionais serão cada vez mais importantes e valorizadas, assim como a capacidade de, mais do que encontrar conhecimento, saber relacioná-lo e integrá-lo. Espero que este trajeto nos encaminhe no sentido de compreendermos cada vez melhor estes valores, mas não os tornar num luxo distópico, como ter de pagar a alguém numa app qualquer do momento, para conversarmos 30m num café (servido por máquinas), ou comprar uma boneca AI de companhia, como no filme “Her”. As possibilidades e perspetivas são imensas, o que por um lado é entusiasmante e, ao mesmo tempo, compreensivelmente assustador. A fase de transição pode não ser fácil e conduzir ao desemprego em algumas áreas, à necessidade de adequar a formação às rápidas necessidades laborais que irão surgir, e de requalificar agilmente as competências das pessoas, quando se estima, segundo a UE, que num futuro próximo, 90 % das vagas de emprego na Europa exigirão algum tipo de conhecimento digital. Mas aqui, quadrando-se o círculo, poderá ser a AI, caso esteja mesmo ao nosso serviço, a ajudar-nos a encontrar as melhores respostas a estes desafios.