Madeira

Tem 13 anos para decidir que veículo 100% eléctrico vai ter

Foto Dorota Szymczyk/Shutterstock.com
Foto Dorota Szymczyk/Shutterstock.com

"O setor dos transportes representa 25% do total de emissões de carbono na Europa e os carros, carrinhas e outros veículos pesados são responsáveis por mais de 70% das emissões nas nossas estradas. A ligação entre o ambiente e a nossa saúde é evidente: um quarto das mortes a nível mundial são causadas por problemas ambientais, a poluição do ar é responsável por 10% dos cancros na Europa e 1 grau de aumento na temperatura média leva a 2% maior risco em acidentes cardiovasculares. Este é um momento histórico, a legislação que hoje aprovamos dá mais um passo na luta contra as alterações climáticas e responde aos consecutivos apelos dos cidadãos”, disse a eurodeputada Sara Cerdas, que foi a negociadora do regulamento - pelo grupo político S&D - que obriga a que, "a partir de 2035 só poderão ser vendidos novos carros com zero emissões".

Esta decisão do Parlamento Europeu, que ainda irá passar por um processo mais burocrático do que castrador, uma vez que ainda terá de ser aprovado pelo Conselho Europeu e, a seguir, ser publicado no Jornal Oficial da União Europeia, para se tornar lei. A partir daí tudo mudará e quem ainda tem carro a combustão, nomeadamente a gasolina e a gasóleo, pode mesmo começar a preparar-se para a meta, daqui por 13 anos. A partir dessa altura, ou mesmo antes, dependendo da evolução deste mercado, até a manutenção do veículo passa a ser mais caro.

A partir de 2035 só poderão ser vendidos novos carros com zero emissões

O Parlamento Europeu aprovou hoje, com 340 votos, contra 279 votos e 21 abstenções, que os carros poluentes deixarão de fazer parte da paisagem europeia após 2035. Isto significa que, a partir desse ano, só poderão ser vendidos novos carros com zero emissões.

Ainda que se possa continuar a vender carros usados a combustão interna, a produção e venda de carros novos deixa de ser permitido dentro da União Europeia e, tendo em conta que o mercado dos 100% eléctricos ainda é muito reduzido, comparativamente, haverá uma inversão segura do peso de cada uma no mercado, inclusive dos preços.

Na Madeira, até ao final do 3.º trimestre de 2022, foram vendidos 14.622 veículos na Madeira - 10.652 usados e 3.970 novos -, denotando-se por isso uma preponderância ainda grande dos carros já rodados face aos 0 km. Contudo, comparando com o ano todo de 2021, quando foram registados 15.384 veículos - 10.871 usados e 4.513 novos -, percebe-se que 2022, faltando às estatísticas oficiais contabilizar um trimestre, houve um grande incremento de vendas. Dentre estes, algumas centenas de veículos 100% eléctricos e toda a gama híbrida (que usa, ainda, duas opções de combustíveis).

Há planos para aumentar a quota de veículos eléctricos, mas, para já não passam de paliativos no sentido de incentivar os consumidores a mudarem-se e, nem por sombra, é um mercado que atrai muita gente. O preço, para já, apesar do apoio dado pelo Governo Regional para ajudar, e bem, a esta mudança, ainda não atrai tanto quanto devia para essa verdadeira mudança acontecer. Aliás, os 328 candidatos para uma dotação financeira que seria de 1.250.899 euros, mas apenas 303 conseguiram ver aprovada a sua candidatura, gastando 1.248.900 euros da verba. Sobraram menos de dois mil euros.

O denominado PRIME-RAM vai voltar este ano e visa um "incentivo a conceder na aquisição de veículos automóveis, motociclos ou ciclomotores 100% elétricos novos, bem como bicicletas elétricas novas, e é aplicável aos beneficiários elegíveis que, comprovadamente, tenham domicílio fiscal na Região Autónoma da Madeira", mas é garantido que continuará a não chegar para atrair todos quantos estejam naquele limite de mudar, agora que a UE estabeleceu definitivamente o prazo para a mudança acontecer.

O programa já apoiou, desde 2019, mais de mil aquisições. Em 2021, foram registados na RAM um total de 372 veículos 100% eléctricos e 392 elétricos híbridos plug-in a gasolina ou gasóleo. Mas, como veremos mais abaixo, são ainda uma minoria significativa.

No país, no ano passado, foram vendidos alguns milhares de carros eléctricos no país, mas nada que atingisse o "recorde de vendas de veículos 100% elétricos em Janeiro de 2023", segundo a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, criada em 2015. "Um novo recorde mensal nas vendas dos Veículos 100% Elétricos (BEV) novos foi registado neste início de ano, perspetivando mais um fantástico ano para o desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal. Em janeiro de 2023 venderam-se 2.509 veículos 100% elétricos (BEV), um crescimento de 3.8% relativamente a dezembro de 2022 e um fantástico crescimento homólogo de 120,5%", escrevem num artigo no seu portal.

Ainda de acordo com outra associação importante neste sector, a ACAP - Associação Automóvel de Portugal, "um milhão e meio de automóveis a circular em Portugal – 26 por cento do total do parque automóvel – têm mais de 20 anos. Este número assume um peso relevante, tendo em conta que, em 2000, os carros com mais de duas décadas de vida representavam apenas um por cento do total do parque".

Deduzindo que a Madeira segue o mesmo padrão, recuperamos a conclusão da ACAP: "Outro problema que perdura é o envelhecimento do parque automóvel, particularmente quando comparado com a média europeia. Em Portugal, no último ano, a idade média dos veículos ligeiros era de 13,4 anos, enquanto a idade média tanto nos ligeiros de mercadorias, bem como nos pesados, de passageiros e de mercadorias, ronda os 15 anos. Acrescente-se que, dos 5,6 milhões de carros em circulação em Portugal, em 2021, 63 por cento tinham mais de 10 anos de idade. Já no que se refere à idade média dos veículos entregues para abate, em 2021, o valor rondava os 23,5 anos (para comparação, em 2006, fixava-se nos 16 anos)."

Ora, se a dedução parecia óbvia, de acordo com as estatísticas do Parque Automóvel Seguro, elaboradas pela ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, havia 172.785 veículos em circulação na Madeira em 2021, mais 4,7% do que em 2020 (165.023), tendo sido a região do país onde mais aumentou. Mais, 68 por cento destes veículos tinham mais de 10 anos e 15,3% tinham entre 5 e 10 anos. Menos de 12% tinham entre 3 a menos de um ano.

Ora se foi neste período de 2019 a 2022 que mais veículos eléctricos foram vendidos na Madeira, totalizando neste período pouco mais de mil com apoio público, mesmo incluindo algumas dezenas que não terão entrado nesta estatística, e atendendo a que neste mesmo período (2019 ao 3.º trimestre de 2022), foram vendidos 45.451 veículos usados e 13.188 veículos novos (e aqui não entram as vendas de 2020, por não estarem disponíveis), consegue-se perceber a verdadeira dimensão deste segmento, que poderá rondar, no melhor dos cenários, entre 2,5% e 5% do total dos carros a circular na Madeira.

Voltando à associação UVE, citamos os desejos para este ano: "Que podemos desejar para 2023? Que as marcas lancem mais modelos e mais económicos, que a oferta permita satisfazer a crescente procura pelos veículos elétricos, que continue a crescer a um ritmo ainda mais intenso a Rede Nacional de Carregamento de Veículos Elétricos, não só a Rede Pública de Carregamento, sob gestão da MOBI.E, mas também as diversas Redes Privadas que servem de complemento à Rede Pública. Reforçamos a urgente necessidade de abertura das estações de supercarregadores da Tesla (SuC) já instaladas e que carecem das condições totais para a sua abertura, pouco interessando para os utilizadores as razões da cada vez mais inaceitável demora na sua abertura."

Ora, se estes são desejos a curto prazo, a longo prazo mas a pensar a partir deste ano, a ACAP  vê o cenário actual e propõe que "Portugal reintroduza mecanismos de incentivo ao abate de veículos em fim de vida para acelerar a substituição dos veículos convencionais mais antigos e poluentes por veículos de baixas emissões", apela. "Neste ponto, refira-se que o Acordo de Melhoria de Rendimentos – celebrado entre o Governo e os Parceiros Sociais – prevê a implementação de um plano de abate de automóveis ligeiros de passageiros em fim de vida e que o Orçamento do Estado para 2023 contempla a criação de um mecanismo que promova a renovação do parque automóvel, incentivo que deverá acumular com outros instrumentos actualmente em vigor", propõem.

As mudanças que decorrem desta mudança necessária ficam expressas neste exemplo dos táxis em Hamburgo e que, a ser aplicada na Madeira, iria, também mudar muito no que aos transportes públicos (que já está em andamento nos autocarros com forte investimento da Horários do Funchal) diz respeito. Mas não só nos transportes públicos, também nos de turismo.

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Aliás, entende esta forte associação empresarial que "a renovação do parque automóvel (e a consequente aposta na electrificação) em Portugal – um dos dossiês prioritários no que se refere ao futuro do sector – obrigará, naturalmente, ao investimento no desenvolvimento da infra-estrutura de carregamento", acreditando que "Portugal terá de apostar, por isso, no aumento do número de pontos de carregamento por posto para optimizar e agilizar a rotação do carregamento e, ainda, na redução dos períodos de licenciamento".

Diz que "paralelamente a este ponto, a ACAP defende, ainda, o reforço dos incentivos aos veículos eléctricos no Fundo Ambiental – seja em número, valor de incentivo ou tipologias –, a simplificação da aplicação de incentivos fiscais, a harmonização e reforço dos pacotes de incentivos indirectos e, por fim, a actuação ao nível dos preços finais para o consumidor, para aumentar a previsibilidade e a transparência dos custos de carregamento", aponta.

Se ficou mais ou menos convencido a avançar para essa solução para a sua mobilidade futura, então fique aqui com uma análise da DECO Protesto aos preços mais em conta (ou não, o leitor decidirá).

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Mas também fique a saber que quanto mais tarde optar por essa mudança, muito provavelmente, mais barata irá ficar essa solução. Esse é um facto que as evidências não deixam margem para dúvidas. E o futuro está aqui ao virar da esquina. Embora, segundo a revista Visão sintetizou de forma perceptível "estas normas não proíbem a circulação, apenas a venda. Se comprar um carro a gasolina em 2034 pode continuar a circular com ele até ao final de vida do veículo". Contudo, melhor é antecipar a mudança, nem que seja para o bem do ambiente.

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