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A Escola é uma luta de todos

Existem muitas prioridades e não podemos acudir a todas de uma só vez, mas, dentro das prioridades, a educação é a primeira

A Escola tem estado na rua. Desta vez, contrariando a tradição de parecer que o problema se resume às questões dos professores e, pontualmente, em situações extremas, à falta de condições ao nível das instalações ou do conforto necessários. Outra novidade é a mobilização transversal que não se restringe à classe docente demonstrando, ao contrário do que o Presidente da República tenta insinuar, que a causa não é, “apenas”, as carreiras e as condições remuneratórias dos professores, auxiliares e outros profissionais na área da educação. Diz Marcelo Rebelo de Sousa que a persistência na luta pode virar-se contra quem luta, numa afirmação tão irresponsável quanto sectária, inaceitável, vinda do mais alto da magistratura deste país. O que se esperaria de um Presidente da República nesta situação, seria, antes, uma convocatória para que a educação seja um verdadeiro desígnio nacional e pilar do seu desenvolvimento. Num país que viveu décadas sob o peso do analfabetismo e que sabe bem que sem competência educacional irá continuar na cauda do desenvolvimento no espaço europeu, é incrível que o nosso Presidente olhe para a realidade como se a discussão tenha a ver com exigências dos professores. A opinião pública que o Senhor Presidente tenta utilizar para desmotivar o protesto e rapidamente se voltar ao costume, também sabe que os professores não estão a tratar apenas de si. Obviamente, a dignidade da função e a justiça devida aos professores também passa por remunerações adequadas à importância do seu trabalho. Queremos ter um país sólido, educado e qualificado social e profissionalmente, pagando a quem tem a responsabilidade dessa formação ordenados miseráveis?. Imaginemos o que seria fazer o mesmo ou equivalente noutras profissões, socialmente mais reconhecidas?. Teríamos bons CEO por 3000 Euros brutos, e sem bónus, no topo da carreira a tentar salvar empresas públicas insustentáveis?. Claro que não. Mas podemos ter milhares de professores a prazo, a mudar de casa todos os anos, a trabalhar em escolas sem condições, a pagar a sua formação contínua e avançada, sem que isso lhes sirva de alguma coisa. Sim, podemos. E é a realidade que colectivamente temos mantido até hoje. O país mudou e evoluiu muito, dispondo de infraestruturas, equipamentos, tudo o que existe em qualquer país minimamente desenvolvido e continua na cauda do pelotão europeu, argumentando-se, sempre, com a falta de produtividade. E como vamos ser mais produtivos se não tivermos uma educação robusta, competente e com as condições e qualidade necessárias?.

Existem muitas prioridades e não podemos acudir a todas de uma só vez, mas, dentro das prioridades, a educação é a primeira. E a educação tem o seu lugar de excelência na Escola. A ladainha do costume de que a base da educação é em casa, só terá algum sentido quando os que estão em casa tiverem também acesso a uma Escola. Não conheço nenhuma família educada que não tenha ido à Escola. A Escola é, por isso, uma luta de todos e não será o incómodo que uma luta como a que finalmente se assiste, que trará mais prejuízo do que a manutenção do sistema como o temos feito até aqui.