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Dezenas de milhar dispostos a muitas horas de fila para homenagem em Westminster

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Foto: NUNO VEIGA/LUSA

Dezenas de milhar de pessoas alinham-se hoje na margem sul do rio Tamisa, em Londres, para passar em frente da urna da rainha Isabel II de Inglaterra, numa fila que as autoridades antecipam poder atingir 16 quilómetros.

O tempo de espera para entrar no salão do palácio de Westminster, onde está o corpo da monarca, que morreu no dia 08 de setembro, pode chegar às 30 horas, se a fila atingir a extensão máxima, segundo a imprensa britânica, mas os seguranças, voluntários e polícias não dão estimativas aos jornalistas ou às pessoas que se vão juntando.

Pouco antes das 17:00, hora a que abriu o acesso à população ao Salão de Westminster e entraram as primeiras pessoas para ver a urna de Isabel II, a fila atingia 4,5 quilómetros, ainda longe dos cerca de 16 quilómetros que as autoridades britânicas consideram ser o limite máximo.

As pulseiras que estavam a ser distribuídas pouco depois das 15:00 aos últimos que se somavam à fila tinham números próximos de 86.000 e as primeiras pessoas que as receberam já tinham passado a última noite no local.

Mas também os últimos a alinhar-se a meio da tarde de hoje iam já mentalizados e preparados para uma noite na fila, como Stefan Conway, de 31 anos, nascido nos Estados Unidos numa família britânica e que vive em Londres desde 2010.

Chegou pouco antes das 15:00 e, como a generalidade de quem está na fila, levou comida, águas, um livro que começou a ler sentado ali mesmo no chão, um livro de passatempos, três baterias carregadas para ir renovando o telemóvel e um casaco impermeável.

Queria homenagear Isabel II, uma pessoa "que corporiza uma nação" e escolheu a passagem pelo Salão de Westminster, que obriga a uma longa espera, porque a outra possibilidade que considerava era o funeral, na próxima segunda-feira, e não sabe como será o ambiente, a gestão de multidões ou se terá tempo naquele dia.

Ao contrário do que acontece com as multidões que se juntam nas imediações do palácio de Buckingham desde a morte de Isabel II, nesta fila para Wesminster há poucos ou nenhuns turistas, poucas são as 'selfies', ouve-se conversar só em inglês e, sobretudo, sobre a monarca e o seu reinado de 70 anos.

É o caso de um grupo de quatro pessoas que, sentadas no chão, perto da ponte de Westminster, a um quilómetro e e meio do início da fila, partilha histórias divertidas sobre a Rainha. Vieram de diferentes partes de Inglaterra e o único homem do grupo, Barry, de 57 anos, da Irlanda do Norte.

Não se conheciam e começaram a falar por volta das 10:00 de hoje, quando se juntaram à fila, na expetativa de "por volta das dez da noite" já estarem a caminho de casa.

Christine, de 73 anos, explica que há em 10 dias de luto e cerimónias muitas oportunidades de homenagear a Rainha, mas escolheu esta por permitir "um momento muito pessoal, mais espiritual", ao contrário do que acontece entre as multidões, sempre com muita gente "de telemóveis nas mãos, a tirar 'selfies'".

"Aqui não há telemóveis, nada, teremos o nosso momento e o nosso espaço próprio", afirmou, resumindo o sentimento e as explicações de todo o grupo.

Catherine, 60 anos, explica a disposição de tantas pessoas para aguardar numa fila destas por uns segundos diante da urna de Isabel II por a monarca representar uma geração de britânicos que viveu a II Guerra Mundial e ter sido "mais do que uma Rainha", mas também "uma mãe, avó e bisavó" para muita gente e a chefe da Igreja Anglicana, entre outros papéis e símbolos da identidade britânica.

Ao longo do percurso da fila foram montadas cerca de 500 casas de banho portáteis e pontos de água, assim como postos de primeiros socorros.

Voluntários da Cruz Vermelha britânica vão também percorrendo a fila perguntando às pessoas se estão bem e dando informações sobre as regras e restrições que as aguardam mais à frente, quando estiverem perto da entrada de Westminster.

O caixão com o corpo da monarca vai estar no Palácio de Westminster, o edifício que alberga o parlamento inglês, com acesso ao público em geral até às 06:30 de segunda-feira (a mesma hora em Lisboa), dia do funeral de Estado, que começará às 11:00.

Ao longo do percurso da fila para o palácio de Westminster, entidades como o centro cultural Southbank Centre, National Theatre e o teatro Shakespeare's Globe vão funcionar continuamente para vender comida e permitir o uso das casas de banho.

Cafés e outros comércios locais também vão funcionar fora de horas.

Quando chegarem ao início da fila, as pessoas serão conduzidas através da ponte de Lambeth, para os Jardins da Torre Vitoria, onde terão de passar por controlos de segurança antes de entrarem no Palácio de Westminster.

Uma vez dentro do Palácio de Westminster, as pessoas vão poder passar pelo caixão, mas sem parar, e não podem levar flores ou outro tipo de ofertas.

Filmagens ou fotografias também estão proibidas.

As autoridades avisaram as pessoas para o risco de ser necessário "ficar de pé durante muitas horas, possivelmente durante a noite, com muito poucas oportunidades para sentar-se, pois a fila está em movimento contínuo".

De acordo com as regras, serão permitidas malas pequenas, uma por pessoa, com abertura fácil para ser inspecionada, e ninguém pode entrar no Palácio de Westminster com comida ou bebida - que "devem ser consumidas na fila de espera"-, flores, peluches, fotografias, cadeiras dobráveis, cobertores, sacos-cama ou bandeiras.

A urna com o corpo da Rainha Isabel II está no Salão de Westminster [Westminster Hall], a parte mais antiga do edifício onde funciona o parlamento britânico, cujas origens remontam ao século XI.

A Rainha Isabel II morreu na passada quinta-feira aos 96 anos no Castelo de Balmoral, na Escócia, após mais de 70 anos do mais longo reinado da história do Reino Unido.