5 Sentidos

"E se tudo falhar, para onde vamos?" chega ao Baltazar Dias

Sara Inês Gigante leva a pergunta ao palco a 8 e 9 de Julho

Fotos DR/Alfredo Matos Ver Galeria
Fotos DR/Alfredo Matos

"Sara Inês Gigante traz a amizade despejada, a distância entre gerações, a constante terapia de grupo", peça que sobe ao palco do Teatro Municipal Baltazar Dias, nos dias 8 e 9 de Julho, a partir das 18 horas, onde três amigos que ficaram sem casa vão perguntar e agora?

"Esta é a primeira criação de Sara Inês Gigante que, depois de ter estagiado no Teatro Nacional D. Maria II, onde participou em vários espetáculos de vários criadores, fez assistência de encenação a Tiago Guedes em 'A matança ritual de Gorges Mastromas', processo que se revelou decisivo para projetar o primeiro ímpeto, o desejo de autoria, o agora-sou-eu-quem-fala", informa uma nota de imprensa sobre a peça.

"Na sinopse do espetáculo, Sara fala de um telefonema com a mãe onde desabafava sobre outras vontades, sair do urbanismo tóxico lisboeta, o idealismo de quem procura viver de forma diferente, uma cabana no campo, um terreno para construir", salienta.

“A ideia primordial talvez seja a dificuldade que sinto em concretizar certas coisas; ou as coisas que reconheço que estão a ser muito complicadas para mim e para as pessoas da minha idade, essa construção de um futuro onde a casa própria é só um dos mil problemas. A casa acaba por ser o pretexto para falar sobre outros desafios, nomeadamente conflitos geracionais que se tornam cada vez mais evidentes, a falta de representação juvenil… É normal pensar sobre quando é que vai ser possível ter uma casa, ter filhos. No fundo, quis tocar numa série de questões que tenho sentido à minha volta”, esclarece.

"Para que todos estejamos no mesmo sítio: Yolo aka Yolanda é uma influencer que ganha a vida através de pequenos vídeos nas redes sociais — mini-objetos que cria com pastilhas elásticas por exemplo; David é um músico sonhador, daqueles que todos reconhecem que tem talento, mas que continua a ter de sobreviver com biscates de várias espécies e jingles para anúncios publicitários; Zacarias é um jornalista em início de carreira, num estágio não-remunerado, com chefes condescendentes e sonhos desenquadrados. Estamos situados? Está muito presente a ideia da precariedade, da vivência jovem-adulta, do precisamos de ideias para resolver isto, temos três meses para sair daqui e agora? Deviam ter investido na bitcoin na altura certa. Talvez possam vender produtos anti-aging ou champôs sólidos e naturais. Talvez. Ou então podem continuar a fazer-se passar por outras pessoas, a imitar a sua forma de falar, afinal é sobretudo isso que vamos fazendo durante a vida: fingir que estamos bem e que sabemos sempre o que se passa com os outros.

Não há como não relacionar este YOLO à biografia da sua criadora. Quando alguém fala sobre comprar um terreno, quando alguém sonha ter uma casa diferente, sabemos o que isso quer dizer — e aqui está o autor deste texto também a achar que percebe o que os outros sentem — sabemos que há qualquer coisa que estica o dedo do meio à forma como vivemos nas cidades, por exemplo. Há uma recusa perante o a forma de vida urbana ocidental.

Esta é a primeira vez que Sara Inês Gigante gritou ao mundo, artisticamente, embora a criadora lhe chama outra coisa: "É uma espécie de um vómito. Não se fala muito destas coisas e nisso inspirei-me bastante nas crónicas do [advogado] João Marecos, sinto que ele enquanto jovem hiper bem-sucedido tem uma consciência muito lúcida daquilo que são as dificuldades de ser jovem hoje. Se estou a sentir isto, se isto me está a ocupar a cabeça agora, se eu sou artista e quero fazer um espetáculo, é sobre isto que vou fazer. Quanto mais não seja porque há coisas que gostava de dizer ao mundo, a liderança está bastante velha, na minha opinião, a opinião está com uma massa de gente maioritariamente mais velha, é como se sentisse que estamos a ser liderados por uma geração que não é a nossa, nunca temos espaço. Enquanto jovem artista, porque não trazer isso para esta minha primeira tentativa? O que é que é meu que pode ser dos outros ou o que é que é meu que pode servir qualquer coisa para alguém?"