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Comissão pede "investigação aprofundada" sobre radioactividade em Chernobyl

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A Comissão de Investigação e de Informações Independentes sobre Radioatividade (Criirad) pediu hoje uma "investigação aprofundada" sobre o nível de radioatividade na central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, criticando os métodos da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

O responsável da AIEA, Rafael Grossi, estimou esta terça-feira, durante uma visita ao local, que o nível de radiatividade em Chernobyl, que foi ocupada pelas forças russas no início da invasão da Ucrânia, estava "num patamar normal".

Grossi especificou que os níveis "aumentaram nos momentos em que os russos movimentaram equipamentos pesados ??para a área e quando partiram" após ocupar a antiga central nuclear, entre 24 de fevereiro e 31 de março.

Mas para Bruno Chareyron, diretor do laboratório do Criirad, com sede em França, é necessário um "conhecimento profundo do local" antes de "decidir sobre a radioatividade na zona de Chernobyl.

"Não é rigoroso por parte da AIEA", produzir aquelas afirmações após chegar ao local, referiu, entre entrevista à agência France-Presse (AFP), o responsável pela associação independente que surgiu no rescaldo do pior desastre nuclear civil da história, precisamente em Chernobyl.

Bruno Chareyron defende que primeiro são necessárias "medições detalhadas em todos os edifícios onde as tropas [russas] puderam entrar, em particular nos edifícios que abrigam materiais radioativos que foram saqueados".

"É também necessário haver um mapeamento detalhado do nível de radiação em todo o terreno ao ar livre onde as tropas russas cavaram trincheiras e conduziram máquinas, pois isso pode ter trazido materiais para a superfície que estavam enterrados e que podem ser significativamente radioativos", alertou.

Tendo em consideração as superfícies em causa, é justificada a utilização de um 'drone' equipado com sensores de radioatividade, acrescentou.

O Criirad apontou ainda críticas às palavras tranquilizadoras da AIEA no dia seguinte à captura de Chernobyl pelas tropas russas, no final de fevereiro.

A agência da ONU, citando o regulador ucraniano, relatou níveis que, segundo esta, não representavam "nenhum perigo" [até 9,46 microsievert por hora, mas os sensores registaram níveis "até 10 vezes" superiores, ou seja, números "extremamente preocupantes para os presentes, nomeadamente pelos riscos de inalação", sublinhou o especialista do Criirad.

Um reator de Chernobyl explodiu em 1986 contaminando grande parte da Europa, mas especialmente a Ucrânia, a Rússia e a Bielorrússia, que integravam a URSS. Denominada zona de exclusão, o território num raio de 30 quilómetros em redor da central ainda está fortemente contaminado e é proibido viver lá permanentemente.

A Ucrânia tem 15 reatores nucleares em quatro centrais elétricas em funcionamento, além de depósitos de resíduos, como é o caso da central de Chernobyl, que foi desativada depois do desastre de 1986.

As forças russas retiraram-se da central de Chernobyl no final de março, mas ainda continuam a ocupar a de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A organização divulgou também que ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para fora do país.