“Não estraguem as vossas belezas naturais!”*

Fico pasmado e mesmo indignado com a pretensão, já em vias de concretização, da construção do teleférico do Curral das Freiras.

Em Agosto de 2018, orgulhava-me de mostrar as belas paisagens da Madeira a um casal de viajantes do continente americano, ele médico e ela arquiteta, que regressavam ao seu país natal depois de uma digressão pela Europa fazendo escala por uma semana na Madeira. Habituados que estão a viajar por todo o mundo, ficaram encantados com a singular e ímpar beleza da ilha da Madeira. Um dos locais visitados foi precisamente o Miradouro da Eira do Serrado. Chegados ao miradouro, enlevados e surpreendidos pela envolvência e imponência do local, dizia o médico para a esposa: “ Temos viajado muito mas este, de longe, é o local mais lindo que visitamos”. Ficaram agradavelmente surpreendidos com a visão panorâmica que se desfruta do local e demoramo-nos mais tempo do que o previsto para que se embriagassem de tamanha beleza natural. Ainda no local, o médico dizia para o grupo familiar madeirense, entre os quais me incluía, que acompanhava o casal: “ Não estraguem as vossas belezas naturais! Se vivesse mais próximo da Madeira visitaria várias vezes ao ano a ilha, tão linda que é!”

Desde algum tempo, somos informados pela comunicação social, da ideia da construção do aludido teleférico que, erradamente pensava ser uma ideia peregrina, mas que, infortunadamente, vem ganhando contornos de uma viabilização efetiva. O projeto esteve ainda em apreciação pública quando já decorriam expropriações para agilizarem o processo de construção do teleférico o que significa que será mesmo uma inevitável realidade a brevíssimo prazo. Uma autêntica fantochada. Popularmente diz-se: colocar a carroça à frente dos bois. Entretêm-nos e iludem-nos com manobras aparentemente dilatórias quando tudo indica que o projeto já está a avançar com as supramencionadas expropriações. Cria-se a ideia de uma decisão democratizada com a possibilidade de uma pretensa auscultação e intervenção da população, através da consulta pública, quando na realidade o que está por trás é uma atitude “prepotente” e inqualificável de quem segura as rédeas do poder. Faz algum sentido iniciar o processo de expropriação a expensas do erário público para, servilmente, entregar na mão de privados?! Que misteriosos privados são esses que se ocultam sob a capa do anonimato? Se têm capacidade de investimento não poderão suportar os custos das expropriações necessárias à realização do empreendimento? Alega-se repetidamente que haverá a criação de cinquenta postos de trabalho para justificar a concretização do projeto mas minimiza-se um nefasto impacto ambiental que o mesmo terá num local emblematicamente natural.

As Ambições e as Paixões desmedidas levam a conspurcar a paisagem com projectos megalómanos perfeitamente dispensáveis quando há outras prioridades, bem mais racionais e prementes, para a população do Curral das Freiras que vive encurralada sem a tão apregoada e sempre adiada saída viária, através de túnel, que facilitaria a deslocação à sede do concelho a que pertencem – Câmara de Lobos.

Há mentes cifradas que só vêem lucros e proveitos económicos mesmo que para tal se sacrifique a natureza. Recorrendo a um clichê, termino dizendo: estamos a matar a galinha dos ovos de ouro.

* Dr. Gustavo Petersen

António Sousa