101 anos de contradições

A intervenção de Jerónimo de Sousa (JS) no comício do 101º aniversário do PCP é uma síntese das contradições políticas do partido. Segundo JS o “PCP não apoia a guerra” nem considera ter havido invasão da Ucrânia mas sim uma “intervenção militar”, e essa sim o PCP apoia. Seguindo o raciocínio revisionista de JS a guerra é culpa da Ucrânia e do seu povo por resistirem à “intervenção militar”. Ao afirmar que o PCP “não tem nada a ver com o governo russo e o seu Presidente” e que “a opção de classe do PCP é oposta à das forças políticas que governam a Rússia capitalista e dos seus grupos económicos” ao mesmo tempo que recusa condenar a invasão, JS torna evidente que o PCP está do lado dos invasores que sob o comando de Putin e do seu governo invadiram a Ucrânia, estão a destruí-la e a matar o seu povo. Por último o apelo de todo patético e incongruente de JS para “o reforço da luta contra as agressões e as ingerências do imperialismo, contra a militarização da União Europeia, pelo fim das sanções e dos bloqueios, pela paz e o desarmamento no mundo, pelo fim das armas nucleares, pelo respeito dos direitos da soberania dos povos”, quando a invasão da Ucrânia consubstancia com toda a evidência a violação desses mesmos princípios através da agressão, ingerência do imperialismo russo, ameaça contra a paz mundial e total desrespeito pelos direitos de soberania da Ucrânia e do seu povo. O ideal comunista do PCP materializou-se sempre através de ditaduras que baniram a democracia, violaram liberdades e direitos individuais, inclusive dos trabalhadores que tanto apregoam defender como os direitos à manifestação e à greve, que perseguiram, torturaram, prenderam e mataram os seus opositores políticos. Ao comemorar 101 anos de contradições do PCP, JS reafirmou o total apoio às tiranias do passado e do presente enquanto reclama contra a liberdade da democracia que, ao contrário dessas tiranias, lhe permite exprimir opiniões por mais incongruentes que sejam.

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