Artigos

A crise da biodiversidade no pós-2020

O certo é que a perda global, e definitiva, da biodiversidade precisa de respostas urgentes e diferentes das que até aqui mereceu

Dentro de poucos dias as notícias darão conta da 15ª reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica (COP15). Uma vez mais representantes de governos, sociedade civil, empresas e outros grupos darão conta da urgência em mudar o rumo actual da conservação da natureza e biodiversidade. Entre a ambição e o compromisso empenhado associado à aprovação do novo quadro global para a biodiversidade pós-2020 e o falhanço do que se tem vindo a fazer até aqui, o certo é que a perda global, e definitiva, da biodiversidade precisa de respostas urgentes e diferentes das que até aqui mereceu. Várias razões determinam o estado de quase inconsciência relativamente ao verdadeiro significado da extinção em massa que caracteriza o Antropoceno. A falta de mobilização e de reconhecimento do que se passa e das consequências, algumas já bem visíveis, que a perda de biodiversidade implica para a economia mundial, é uma evidência objectiva de que também carece de mudança a forma como a comunidade internacional e os países, individualmente, gerem este assunto.

Ao contrário de outras temáticas ambientais, como a poluição, a gestão de resíduos, a água, ou as alterações climáticas, quando se fala de biodiversidade, o assunto tende, quase exclusivamente a cair no domínio do intangível. Mesmo a atenção que de tempos em tempos é dada à floresta Amazónia ou a algumas espécies simbólicas em risco de extinção, resulta mais de motivações orientadas para as alterações climáticas do que pelo valor e importância específica da biodiversidade e dos ecossistemas.

Não se estranha por isso que praticamente nenhum cidadão comum tenha ouvido falar ou perceba o que significa as Metas de Aichi para a Biodiversidade, o Protocolo de Cartagena, o Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020 ou qualquer outro programa associado ao que preconiza a Convenção sobre a Diversidade Biológica. Assim sendo, o falhanço das Metas de Aichi não acarretam qualquer sentimento de responsabilidade para a maioria da população mundial e, consequentemente, o que se sucede, igualmente pouco dirá de novo. Esta COP15 da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em Montreal, Canadá, aprovará então o novo Quadro Global para a Biodiversidade pós-2020 cuja apresentação preliminar, importa recordar, aconteceu em 2021 sem que quase se tenha notado. Mais compromisso e, sobretudo, mais eficiência, exige um pouco mais do que as habituais notas folclóricas ou simbólicas que trajam as notícias sobre estes eventos. O pós-COP15 exige que, em cada país, as entidades responsáveis pelas políticas de conservação da natureza e biodiversidade sejam capazes de prestar um verdadeiro serviço público de comunicação no envolvimento dos cidadãos em vez de se remeterem ao tradicional “business as usual”. Conservar e utilizar de forma sustentável a biodiversidade é muito mais do que decretar áreas protegidas ou criar miríades de planos e regulamentos que não servem a ninguém e muito menos à natureza.

Comunicar, explicar, envolver, valorizar, investir, conhecer, comprometer, são verbos em falta no que respeita à biodiversidade, seja ao nível da Convenção seja ao nível nacional ou local.