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Polícia queniana mata influente jornalista paquistanês

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Um influente jornalista paquistanês que vivia exilado no Quénia foi baleado e morto pela polícia depois de o carro em que seguia ter desrespeitado uma operação stop numa estrada perto de Nairobi, informou hoje a polícia queniana.

De acordo com as autoridades quenianas, a morte do jornalista - Arshad Sharif, 50 anos - resultou de um incidente de "identidade errada", ocorrido durante uma operação de busca de um carro semelhante, envolvido num caso de rapto de crianças.

Arshad Sharif deixou o Paquistão em julho para evitar ser detido por criticar os poderosos militares do país do Sul da Ásia. Foi também um crítico do governo do primeiro-ministro Shahbaz Sharif, que se tem afirmado reiteradamente como um crente na liberdade dos meios de comunicação social.

A polícia de Nairobi fez saber que Sharif foi baleado na cabeça e morto no domingo à noite depois do carro em que seguia com o seu irmão, Khurram Ahmed, ter ignorado um bloqueio de estrada montado pelas autoridades na auto-estrada Nairobi-Magadi.

Sharif e o irmão, que conduzia o automóvel, viajavam da cidade de Magadi para a capital do Quénia.

Ignoraram as ordens da polícia para parar, "não pararam e prosseguiram com a viagem", justificou a polícia, que lançou uma perseguição e abriu fogo, provocando a captação do automóvel.

A esposa de Sharif, Javeria Siddique, confirmou que o seu marido foi morto no Quénia. O seu irmão terá sido levado para um hospital.

Sharif deixou o Paquistão em julho para evitar ser preso e depois de se afirmar vítima de ameaças constantes. O seu paradeiro não era do conhecimento público; a maioria dos seus amigos sabia apenas que ele tinha passado algum tempo no Dubai, nos Emiratos Árabes Unidos e em Londres.

A polícia de Nairobi anunciou hoje que a Independent Policing Oversight Authority, um organismo interno de monitorização da atuação policial, desenvolverá uma investigação "aprofundada" do incidente.

"Tivemos um incidente de tiroteio que se revelou ser um caso de identidade errada envolvendo um jornalista. Mais tarde divulgaremos mais informações", começou por anunciar um alto funcionário da polícia queniana, citado pela agência Associated Press, falando sob condição de anonimato por não estar autorizado a prestar declarações aos meios de comunicação social.O Presidente paquistanês, Arif Alvi, o primeiro-ministro Sharif, que não tem qualquer relação de parentesco com o jornalista morto, militares e outros altos funcionários do Paquistão expressaram hoje condolências.

Um mês depois de ter deixado o Paquistão, a televisão privada ARY despediu Arshad Sharif, por alegadas criticas repetidas aos militares nas redes sociais, em violação da política da estação de televisão.

Sharif vinha a criticar abertamente o todo-poderoso exército paquistanês desde abril, acusando-o de apoiar a mudança de governo na sequência de uma moção de censura que derrubou o então primeiro-ministro Imran Khan.

Khan afirma ter sido deposto por uma conspiração conduzida pelos Estados Unidos, uma acusação que tanto Washington como o governo paquistanês negam.

O partido Imran de Khan - Tehreek-e-Insaf - e os seus líderes principais, incluindo Fawad Chaudhry, condenaram hoje a morte de Sharif e exigiram uma investigação detalhada.