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Trump prepara recandidatura para 2024

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O ex-presidente norte-americano Donald Trump liderou ontem um comício em Robstown, no sul do Texas, navegando a reta final da campanha republicana às eleições intercalares e ensaiando a sua recandidatura presidencial a 2024. 

O anterior chefe de Estado tinha prometido um discurso de apoio "ao seu esforço sem precedentes para avançar a agenda MAGA (movimento "Make America Great Again", "Engrandecer Novamente a América") energizando os eleitores e sublinhando o resultado de 33-0 a favor dos candidatos America First apoiados por Trump no grande estado do Texas". 

Com "33-0", Trump referia-se aos candidatos que apoiou e venceram as primárias republicanas no Texas, embora várias corridas tivessem pouca ou nenhuma oposição. 

O comício no sul do Texas é o mais recente de uma série de eventos encabeçados pelo ex-presidente nas últimas semanas, com paragens em cidades como Wilmington (Carolina do Norte), Warren (Michigan), Mesa (Arizona) ou Minden (Nevada). No total, já fez mais de duas dezenas de comícios este ano. 

A influência de Donald Trump na escolha dos candidatos republicanos às eleições intercalares já tinha sido significativa, com muitos extremistas e negacionistas da legitimidade de Joe Biden a vencerem as primárias. 

Segundo o cientista político Thomas Holyoke, da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, a presença de Trump neste ciclo eleitoral foi mais forte do que o esperado.

"Calculei que a imagem de Trump estaria tão danificada que a sua importância diminuiria, e não é esse o caso", disse à Lusa. 

Em estados decisivos como Geórgia, Arizona, Nevada e Pensilvânia, vários candidatos com posições extremas apoiados por Donald Trump triunfaram nas primárias e vão a votos a 08 de novembro, em corridas que irão determinar o controlo da Câmara dos Representantes, do Senado e dos governos estaduais. 

Na Geórgia, Trump não conseguiu fazer avançar várias das suas escolhas para a Câmara e para o governo estadual, mas empurrou para a frente o controverso Hershel Walker como candidato ao Senado. 

No Arizona, avançaram quatro candidatos republicanos que negam a legitimidade de Biden e apoiam Trump: Kari Lake na corrida a governadora, Mark Finchem para secretário de Estado, Blake Masters para o Senado e Paul Gosar para congressista do 9º distrito. Finchem e Masters seguem o movimento conspiracionista QAnon. 

No Nevada, o candidato apoiado por Trump Adam Laxalt corre ao Senado e na Pensilvânia vão a votos Mehmet Oz (Senado) e Doug Mastriano (governo estadual), ambos apoiados pelo ex-presidente. 

"Os eventos de campanha que Trump está a fazer são específicos para republicanos MAGA", disse à Lusa o cientista político Everett Vieira III.

Mesmo com a sombra de potenciais processos criminais, a base não mostra recuo e a agenda repleta de Trump, com comícios por todo o país, serve de ensaio para a recandidatura às presidenciais de 2024. Ainda assim Vieira frisa que os operacionais republicanos estão focados nas intercalares. 

"A base de apoiantes de Trump não poderia ser mais indiferente aos seus problemas legais", analisou também Thomas Holyoke. "Assumem que é o 'estado profundo' a tentar encontrar uma forma de retaliar contra Donald Trump", frisou.

"Trump disse há uns anos que podia alvejar alguém na 5ª Avenida em Nova Iorque e safar-se, e para a sua base isso é verdade", considerou o especialista. 

No entanto, a influência de Trump na campanha republicana também tem efeitos perniciosos, algo que é evidenciado pela vantagem que os democratas conseguiram nas perspetivas para o Senado. 

"Estamos a ver que é uma faca de dois gumes para os republicanos. Talvez Trump seja útil nas corridas para a Câmara dos Representantes, mas a sua influência pode bem custar aos republicanos o controlo do Senado", disse Holyoke. "Porque muitos dos candidatos problemáticos ao Senado são aqueles que Trump quis, tal como Hershel Walker, J.D. Vance e Dr. Oz". 

As sondagens mostram que o impulso conquistado pelos democratas durante o verão, após a revogação do direito federal ao aborto e vitórias legislativas da administração Biden, começou a desvanecer-se nas últimas semanas. 

No entanto, os democratas continuam com ligeira vantagem nas perspetivas de manterem o controlo do Senado e isso deve-se principalmente a corridas decisivas onde os republicanos estão com dificuldades, como Geórgia (Hershel Walker), Pensilvânia (Dr. Oz) e Arizona (Blake Masters). 

O modelo da plataforma agregadora de sondagens FiveThirtyEight dá aos democratas uma probabilidade de 55 em 100 de manterem o Senado e aos republicanos 81 em 100 de vencerem a Câmara dos Representantes.