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Ataque à ponte da Crimeia gera fortes críticas a Putin entre militares russos, revela relatório

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O ataque à ponte da Crimeia, pelo qual a Rússia responsabiliza Kiev, está a gerar fortes críticas por parte de militares ao Presidente russo e ao seu silêncio, visto como "um sinal de fraqueza", apontou hoje um 'think-tank' norte-americano.

A análise é do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um 'think-tank' (grupo de reflexão) norte-americano, que diariamente divulga relatórios sobre a invasão russa em curso no território ucraniano.

Os analistas do ISW sublinham, numa edição especial hoje divulgada, que o ataque ocorrido no sábado "está a gerar críticas diretas ao Presidente russo [Vladimir Putin] e ao Kremlin vindas da comunidade nacionalista pró-guerra russa".

A ponte, um símbolo da anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia (ocorrida em 2014), foi alvo, este fim de semana, de uma explosão provocada por um camião-bomba, que matou pelo menos três pessoas e deixou muito danificada a infraestrutura.

O ISW adianta que alguns 'milbloggers' (designação utilizada para militares que escrevem em blogues sobre a guerra) criticaram o fracasso de Putin e do Kremlin (Presidência russa) em abordar alguns eventos incontornáveis "sem franqueza", exemplificando o naufrágio do navio 'Moskva' na costa da Ucrânia, no Mar Negro, em abril passado ou a troca de prisioneiros envolvendo os combatentes entrincheirados no complexo siderúrgico de Azovstal, em Mariupol, sudeste do território ucraniano.

Para alguns destes comentadores militares, Putin deve responder à explosão da ponte para que "o seu silêncio não seja percebido como uma fragilidade".

Alguns destes 'bloggers' militares ainda dirigiram as suas críticas ao silêncio do atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, o ex-Presidente Dmitri Medvedev, apesar de sempre ter alegado que um ataque à ponte da Crimeia seria uma "linha vermelha" para a Rússia.

As críticas diretas a Putin por parte desta comunidade não têm precedentes e, segundo a análise do ISW, "podem indicar dúvidas crescentes sobre a capacidade de Putin em cumprir o objetivo prometido de 'desnazificar' a Ucrânia e podem minar o apoio a Putin".

"Os objetivos declarados por Putin para a invasão que lançou em 24 de fevereiro ressoaram profundamente na comunidade nacionalista, que subscreve firmemente a ideologia da superioridade histórica e cultural da Rússia e do direito de controlar os territórios da antiga União Soviética e do Império Russo", refere a análise do instituto.

"Falhas militares recentes fizeram com que alguns 'milbloggers' ficassem preocupados com o compromisso de Putin para com essa ideologia, sendo que alguns até o acusaram de não defender a ideologia", indicam os analistas do 'think-tank' norte-americano.

Para o ISW, Vladimir Putin está perante um problema, já que "não pode fazer a única coisa que o seu eleitorado de linha-dura exige: vencer a guerra".

"A mudança de comandantes seniores não resolverá os problemas sistémicos que paralisaram as operações, a logística, a indústria de defesa e a mobilização russas desde o início da invasão", refere ainda a análise do ISW, acrescentando que esses "bodes expiatórios só conseguem desviar as críticas de Putin apenas durante um tempo", pelo que o aparecimento destas críticas diretas à liderança do Presidente russo é, "provavelmente um prenúncio de insatisfação futura".