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E agora, sr. Almirante?

Depois de meses a liderar o processo de vacinação em Portugal, o Almirante do povo, que se tornou quase tão popular como a princesa do povo, está “au point” para se aventurar noutros mares. Com aquela calma que já lhe conhecemos, a passar por entre os pingos de chuva. Por um lado, conseguiu reunir a simpatia de todos os partidos, da direita à esquerda. Por outro, rivalizou com Marcelo no número de selfies tiradas. Se é certo que, para muitos, Gouveia e Melo está em condições de liderar os destinos da Marinha, também é ponto assente que pode estar em condições para liderar o Banco de Portugal com uma perna às costas. Depois de ter conseguido elaborar planos de vacinação que conseguiram fazer com que 72% da população já tenha as duas doses e 80% pelo menos uma, o Almirante mostrou que foi a aposta certa no momento certo.

Adorava ver uma task-force a distribuir vacinas com soníferos aos administradores de empresas falidas que todos os dias sugam dinheiro ao Estado. Cortar a direito nos gastos inqualificáveis e até pornográficos de uma Tap, de um Novo Banco, de uma CP. Com um grau exigência proporcional à altura, o Almirante deixou tudo para trás para se dedicar a uma causa que não era a sua, mas aos militares exige-se lealdade e patriotismo. Já agora, se Gouveia e Melo tiver saudades de navegar, pode sempre embarcar na lancha de 8,5 milhões da GNR e ensiná-los como se faz, porque pelo que se viu à saída do Tejo, a malta dos cavalos tirou o curso de marinharia online, numa aplicação pirata para Android.

Devia haver uma vacina que punisse os crânios que tomaram a decisão de mandar para o mar gente de bota de cano alto. Só alguém muito distraído ou mal-intencionado não adivinhava que isto não ia dar certo. Se o Almirante tiver um tempo também pode dar um pulinho a esta ilha à beira-mar plantada, onde os turistas, guiados por gente sem formação, (ou também com cursos online) saem dos percursos recomendados em direção à morte. Adorava ver um plano de vacinação para guias de montanha que nem sabem para que lado corre a água nas levadas. Mas já agora que fosse ministrada no traseiro para os curiosos que levam fortunas aos visitantes para os encaminhar para o perigo, não se poderem sentar por uns tempos.

Não sei o futuro do Sr. Almirante. Mas sei que o País lhe deve muito e que devia reconhecer o seu trabalho e o da sua equipa, escondida durante meses em catacumbas sem ver a luz do dia. Cá estaremos para ver de que forma é que a capacidade de um grupo de elite de militares e civis combater nesta guerra vai ser lembrada ou esquecida. Duma coisa vou recordar-me. Da histórica frase de Platão. Há os vivos, os mortos... e os que andam no mar.