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O cheque dos Correios

O serviço de Correios tem desempenhado um papel extraordinariamente importante ao longo do último século: encurtou distâncias, facilitou contactos entre familiares e amigos ausentes na diáspora e prestou à nossa população um conjunto de serviços essenciais à vida em sociedade. Com a decisão de privatizar os CTT, por sinal uma das poucas empresas públicas que dava lucro, o serviço degradou-se e a confiança dos cidadãos num serviço, que se tem revelado essencial, saiu indelevelmente gorada. Hoje, os CTT, enquanto empresa privada, raramente presta serviço de qualidade e, ainda por cima, dificulta a vida às pessoas. Que o digam os idosos que recebem os vales da sua pensão através dos Correios. Quanto, geralmente, tinham a sua reforma ‘na mão’ ao início de cada mês, neste momento têm que esperar, não raras vezes, até dia 8 ou 9 para poderem pagar as suas contas e comprar a alimentação e medicamentos essenciais à sua vida diária. Dirá o leitor que, esta situação não é grave e que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas receberão o que é seu. Peço perdão, mas não concordo. Numa altura em que o empobrecimento da população, sobretudo a mais idosa, é tão flagrante, fazer atrasar uma semana o pagamento das suas magras pensões contribui para degradar as suas condições de vida e prejudicar a sua própria saúde. É nisto que se transformou o serviço postal: num calvário para quem dele depende. Enquanto os governos desta República das bananas andam preocupados com o ‘sexo dos anjos’ e ‘histórias da carochina’, dariam um bom contributo ao país se revertessem a privatização dos CTT, recolocando esta empresa na esfera pública, assegurando o bom serviço público que prestava antes da privatização. Ganharíamos todos nós e ganharia o Estado também, que voltaria a ter nas mãos um serviço que sempre deu lucro.