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Poucos mas bons

Preocupa-me, ainda hoje, que as pessoas procurem as Canárias como modelo. Sim, acho que devemos procurar modelos, mas devemos procurar os modelos mais adequados à nossa realidade.

E os nossos modelos não estão no Atlântico – ou, estando, não estão para sul de nós, mas para norte.

Defendo que os nossos modelos de desenvolvimento estão no Mediterrâneo. Córsega, Sardenha, Mykonos, quando muito algumas das Baleares.

O modelo das Canárias funciona para um mercado muito maior do que o que conseguimos absorver, e não podendo optar pelo número, temos de selecionar os nossos visitantes pelo valor. Especificamente, pelo valor que nos podem trazer como destino.

A Madeira não se tem de impor no mercado pelo preço do destino, mas pelo valor da sua oferta. Que se quer diferenciada, pequena, seletiva e de alta qualidade. E é por aqui que tem de passar o esforço e a aposta. Não está em subsidiar empresas da Ribeira Brava para desenvolverem software que dispara “likes” para ganhar o “melhor destino insular do mundo”. Isso vale zero.

Porque o mercado que nos interessa, que gasta umas centenas de euros num jantar sem pestanejar, não quer saber de concursos de “melhor destino insular”, especialmente quando já toda a gente percebeu que o concurso é conversa.

O cliente que nos interessa não quer saber se o lettering do logotipo Madeira mudou, ou sequer se este é compreensível.

Ao cliente que nos interessa, interessa sobretudo assegurar a calma, a tranquilidade, e a sustentabilidade. Sim, a sustentabilidade… a vários níveis. Para eles ambiental e social, para nós todas as três vertentes (financeira também).

Mas a prioridade parece ser outra. Parece passar por satisfazer os lóbis do costume, com estradas pelo meio da laurisilva, pelo enterrar de amianto na fronteira de um parque natural, pelo saque das ribeiras, e pelo arrancar até à desertificação e erosão totais das areias dos fundos marinhos ao longo da costa sul da ilha.

Sim, preocupa-me. Porque acho que assim não vamos lá.