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Olhos e ouvidos

Muita informação importante é colhida na Comunicação Social, sobretudo nos países democráticos, onde o debate é público

Desde sempre os governantes dignos desse nome se preocupam em estar informados. Não só sobre os adversários, mas também sobre os aliados, amigos e até a familiares. Por isso ninguém se espante quando os EUA expulsam um agente israelita, ou Portugal declara persona non grata um adido americano (casos reais).

A História é um desfiar dessas estórias; já os imperadores persas tinham uma rede de espiões chamados “os olhos e ouvidos do rei”.

Estamos a viver uma telenovela de espionagem – à nossa escala.

Tudo porque os competentes serviços da Câmara Municipal de Lisboa, diligentemente e repetidamente, foram informando as diversas embaixadas sobre quem se manifestava à sua porta. Não só a CML: cerca de meia centena de outras Câmaras fizerem o mesmo, dando assim cumprimento a uma disposição legal que, primeiro, nem deveria ter sido parida, segundo, deveria ter sido revogada há cerca de meio século.

Porque nem é preciso invocar a proteção de dados para constatar que aquela disposição era (ou ainda é?) é um atentado ao bom senso. Mas, sendo que as Câmaras estão obrigadas a cumprir a Lei, assim foram fazendo, até há poucos dias.

O problema está em que as Embaixadas estão na capital, e não no Portugal desconhecido – o que coloca Lisboa na linha da frente. E isenta os municípios periféricos, por falta de oportunidades de protagonismo.

Diz um novíssimo ditado que “em ano de eleições, não há contemplações”. Assim sendo, as oposições concertadas malharam no edil ulissiponense, de nada lhe valendo um comovente mea culpa (alheia).

Os do “arco governativo” esqueceram-se de que integraram executivos que deveriam ter mandado para a lixeira a tal regra, e de que algumas Câmaras pecadoras podem ser dos seus partidos.

Como se disse, é obrigação de qualquer governo estar bem informado. Isto implica ações abertas e legais, e também outras mais encobertas e subtis.

Muita informação importante é colhida na Comunicação Social, sobretudo nos países democráticos, onde o debate é público. Uma notícia publicada é sempre fonte de informação. Por outro lado, não faltam criaturas que, por esta ou aquela razão, traem ose país.

Pelo que os dados ingenuamente fornecidos à Rússia terão sido redundantes: apenas uma confirmação (gratuita) do que já sabia.

Preocupa-me mais os dados fornecidos à Venezuela; esses seriam em primeira mão, e existe sempre a possibilidade de retaliação sobre os familiares que por lá ficaram.

E nesses ninguém fala, como se ninguém tivesse olhos nem ouvidos.