“Dar-se ao respeito”

O Ministro das Infraestruturas e da Habitação (MIH) ficou aborrecido com as críticas do CEO da Ryanair ao Governo por “desperdiçar” dinheiro dos contribuintes com a reestruturação em curso na TAP. O MIH reagiu afirmando que a Ryanair “não tem de interferir nas decisões soberanas tomadas pelo Governo português”; “Não podemos aceitar ligeiramente que um empresário, mesmo que grande empresário, possa dizer o que quer sobre um Governo e esperar do mesmo Governo o silêncio. Isso não é um país dar-se ao respeito”. Desde quando criticar decisões de um governo é “interferir” na governação? Este é o tipo de alegação própria de governos ditatoriais de direita e de esquerda para tentar calar quem os critica. Em democracia governo e governantes não estão acima das críticas e podem sempre contestá-las quando as considerarem injustas, mas o que não devem é afirmar que as mesmas estão a “interferir” nas suas decisões, já que isso pressupõe uma tentativa para condicionar a liberdade de opinião não compaginável com uma governação democrática. Quanto ao “respeito” não é o mesmo que as ditaduras de esquerda e de direita também reivindicam enquanto reprimem a liberdade e outros direitos fundamentais? Um governo mais do que “dar-se ao respeito” tem de merecer respeito e isso foi o que os governos do PS dos últimos 6 anos não conseguiram quando usaram as verbas de investimento público inscritas em sucessivos OE como instrumentos de mera propaganda, inventaram “inaugurações” de infraestruturas ainda mal começadas e ainda muito longe de estar concluídas, que sem um pingo de vergonha enviaram cartas conforto aos trabalhadores da TAP que mantêm os postos de trabalho ao mesmo tempo que ameaçam outros com despedimento coletivo, que cederam às exigências de um acionista estrangeiro ao dar-lhe 55 milhões de euros estando a TAP já “falida” e que são incapazes de explicar ao País que TAP advirá da reestruturação em curso, se a UE permitir que mesma avance.

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