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Jorge Borges de Macedo ou a necessidade da História

Evoca-se hoje, a nível nacional, o 1º Centenário (1921) do nascimento do Professor e historiador Jorge Borges de Macedo (JBM). Tive o privilégio de ser seu aluno, à semelhança, aliás, de outros madeirenses, na Faculdade de Letras da U. de Lisboa. Foi ele também, nos idos anos 90, um dos meus avaliadores, na entrevista do júri de acesso ao Mestrado. Refiro-o, porque ainda hoje o retenho como um momento único, de um diálogo inesquecível, que então um simples (e ansioso, e se calhar até temeroso) candidato a aprendiz de historiador jamais esquecerá e guarda como uma das suas mais significativas experiências no percurso académico.

Não é fácil, portanto, falar de um homem que marca a historiografia portuguesa, dotado de uma reconhecida - por intensa e complexa - personalidade; possuidor de uma sapiência imensa, que por vezes chegava a ser atroz, mas acompanhada de um humor ímpar; alguém que admiramos e que mantemos, pelos seus ensinamentos e por muito daquilo que nos transmitiu e escreveu, como uma referência essencial, de princípios e valores, do que deve ser a escrita da História.

Falecido em 1996, apoiante do MUD e da candidatura à presidência do Gen. Norton de Matos, opositor ao “Estado Novo” nas décadas de 40 e 50, professor universitário e, apesar de algo avesso a cargos, antigo director da Torre do Tombo, deixou-nos uma extensa e diversificada produção, com mais de 300 textos publicados, em livros, revistas e dicionários, assim como múltiplas intervenções, em vários fóruns, nacionais e internacionais, abrangendo desde a História Política e Militar à Teoria da História, passando pela Economia, Cultura, Relações Internacionais e Diplomacia. Traduziu para português várias obras de referência.

Escreveu também sobre a Madeira, podendo destacar-se a sua recensão crítica de Un carrefour de l’Atlantique - Madére (1640-1820), de Albert Silbert (1954); O Açucar na Madeira nos fins do século XV. Problemas e produção e comércio (1962, com V. Rau) e “Dados sobre a emigração madeirense para o Brasil no século XVIII” (1963).

Através da História, analisou, pensou e projectou Portugal, fundamentando a afirmação da sua identidade e do que definiu como as suas condições de felicidade, num processo de assimilação e prossecução, sempre entre a Europa e o Atlântico, mas nunca só num deles. Daí o seu alerta para três necessidades impreteríveis: evitar exclusivismos, ter sempre clara consciência das constantes e linhas de força e saber acompanhar os desafios e os progressos tecnológicos.

Hoje, JBM continua a ser um historiador necessário - e um sólido exemplo da imperiosa necessidade da História - que se manifesta pela sua actualidade e por uma particularidade ensaística, que os seus escritos comprovam: ter muitas vezes razão antes do tempo.

Permitam-me, contudo, na sua evocação, que conclua tendo presente - para além de tudo o mais e da sua imensa erudição - esse gesto, aparentemente simples, do Catedrático que nos esperava à porta de uma pequena sala e, invariavelmente, nos cumprimentava, um a um, estendendo a mão, à entrada.