Ginjas - Retórica política ou defesa do ambiente?

Confesso que tenho acompanhado com pouco interesse o folhetim da pavimentação do Caminho das Ginjas. É desmotivante ver o extremismo, quase cegueira que envolve toda a discussão. Ou és a favor, ou és contra. Ou é tudo mau, ou é tudo bom. Nós contra eles. O diálogo e o encontro de opiniões próprio das democracias maduras estão sequestrados, vítimas da opinião dogmática e inflamada, propagada em jeito de Epístola através das redes sociais. Ou não fosse este, um ano de eleições… Sem querer me imiscuir demasiado em tão “profícua” discussão, deixo aqui alguns considerandos que julgo também ter direito a proferir.

Qual o verdadeiro impacto da pavimentação do Caminho das Ginjas? As pessoas saberão realmente sobre o que estão a opinar? Saberão que o caminho existe há várias décadas e que é percorrido diariamente por inúmeros veículos todo-o-terreno, sem qualquer tipo de controlo? Saberão que as suas bermas estão infestadas de plantas invasoras como carqueja, giesta e abundância e os núcleos de floresta Laurissilva que ali ocorrem estão degradados? Que a água da chuva corre livremente pelo caminho sempre que chove, arrastando terra e pedras para os terrenos contíguos? Saberão sequer que não será destruída floresta, nem ampliada a largura do caminho, mas feita a reabilitação do piso que já existe?

Critica-se pelo facto de o caminho ser uma descontinuidade no habitat, mas essa descontinuidade já lá não está? Critica-se por permitir a entrada de invasoras, mas elas já lá não estão? Critica-se por que vai levar trânsito para o interior da floresta, mas os jipes já não andam por ali? Critica-se por causa das linhas de água, mas elas já não estão degradadas e a espalhar a água pelo atual caminho? Critica-se por que vai impermeabilizar o solo, quando a área pavimentada, ainda por cima com pedra basáltica que permitirá a infiltração, será inferior a 99,9% da área daquela encosta?

Quero com isto dizer que também existem mais-valias naquela pavimentação, em particular por que será empedrada e não asfaltada. Por que facilitará o acesso dos bombeiros em caso de incêndio ou de resgate em caso de acidente num dos vários percursos que atravessam o local. Por que permitirá uma limpeza mais fácil e frequente das invasoras que ali já existem e ameaçam, NESTE MOMENTO, a Laurissilva. Por que permitirá a recuperação de áreas de floresta degradada. Por que irá corrigir os leitos de pequenas linhas de água que atualmente alagam e destroem o caminho de terra e as suas bermas. Por que irá regrar a passagem de veículos, garantindo que não são apenas os donos de todo-o-terreno, que na sua maioria nem vivem em S. Vicente, que ali podem ir e fazer daquilo a sua coutada.

Conheço bem esta zona de S. Vicente. Muitas vezes ali passei em trabalho e em lazer. Sei perfeitamente o que ali está e que o verdadeiro impacto na floresta já aconteceu aquando da abertura do caminho. Se eu critico quem o fez? Não. Julgar o passado de acordo com os valores atuais, é absurdo e ridículo. Se concordaria que, hoje, o caminho fosse aberto, jamais! Mas se o mal está feito, porque não o remediar? Não espero alterar quem tem a opinião blindada à mudança, pretendo apenas chegar a quem tem dificuldade em encontrar a razão de tanta polémica e que desconfia de fundamentalismos. E deixo bem claro que apenas me pronunciei sobre os possíveis impactos desta pavimentação sobre a Floresta Laurissilva, por ter formação na área ambiental (não é a mesma coisa que ser “ambientalista”, não se confundam as coisas). Quanto a questões económicas ou sociais, se é dinheiro bem ou mal gasto, ou “tecnicidades” sobre competências da entidade que fez o Estudo de Impacto Ambiental e os seus méritos, deixo-as para os “políticos” que as queiram discutir.

Jordão Gomes