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E as medidas para as famílias que cuidam dos idosos em casa? – um ano depois

Repito o título do artigo que escrevi faz precisamente um ano. Neste ano em que tanto se falou das pessoas idosas, muitas vezes para lamentar o terem sido vítimas mortais do vírus, pouco ou nada foi feito para tornar mais fácil a vida das famílias que cuidam dos idosos em casa.

A revista Dinheiro e Direitos da DECO de março/abril deste ano tem um artigo com o título “Com o pai ou com o salário” em que a situação dos filhos ou netos obrigados a faltar ao trabalho para cuidarem dos seus parentes idosos é referida. Apesar destas faltas serem justificadas, a remuneração é perdida sem direito a qualquer compensação por parte da Segurança Social, ou seja, não acontece o mesmo do que no caso do cuidado aos filhos em que a remuneração é perdida, mas é substituída por um subsídio correspondente a 100% da remuneração líquida por parte da Segurança Social.

Na mesma revista, outro artigo “o Estatuto já existe, falta o resto” onde se mostra o muito que ainda falta fazer para que o Estatuto do Cuidador Informal seja aplicável aos cerca de 800000 cuidadores informais que se estima que existam em Portugal. São diversos os aspetos apontados no artigo que vão desde a não cobertura do todo território nacional, passam pela grande burocracia e vão até à falta de regulamentação das medidas de conciliação entre a atividade profissional e a prestação de cuidados para os cuidadores não principais.

Os exemplos referidos mostram que o discurso oficial onde se aponta a continuação do idoso no seu meio familiar como o caminho a seguir não parece levar a serem tomadas medidas que realmente facilitem a vida das famílias e as levem a não optarem por colocar os seus parentes em verdadeiros depósitos de idosos que existem por todo o território nacional, como a pandemia nos veio mostrar.

Estou certo de que a maior parte de nós nem imaginava que mesmo em pequenas aldeias e vilas, onde outrora os idosos viviam em contexto familiar, hoje vivem em lares uma vida em ambiente artificial que nenhum de nós, ou poucos de nós, desejamos para a nossa velhice. Por isso, a meu ver, devia-se utilizar parte dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência para construir habitação social adaptada a famílias com idosos e para adaptarem as habitações às necessidades dos idosos, porque a qualidade de vida dos idosos e dos seus cuidadores melhora muito.

A sociedade cada vez mais envelhecida que somos exige que tomemos medidas urgentes hoje … amanhã todos seremos apenas mais um idoso.