Liberdade, igualdade e fraternidade com Pai

A Revolução Francesa teve o mérito de proclamar três virtudes políticas, mas como se fossem dadas de borla pelo caos revolucionário. Contudo, são de aquisição árdua. A liberdade interior, psicológica, o livre arbítrio, distingue a pessoa enquanto consciência e responsabilidade. Alguns neurocientistas discorrem sobre os seus contornos e condicionamentos deixando pairar a dúvida se existe; consideram-na, porém, convicção forte que faz bem à saúde e à sociedade. A filosofia e a teologia consideram-na convicção consensual, difícil de provar com evidências científicas, mas impossível de negar.

Os conceitos de igualdade são mais nebulosos. A pretensão uniformista e negativista das diferenças pessoais é ideologia sem ciência e perigosa. Reconhecer a diversidade pede mais humildade científica e mais respeito pelas diferenças pessoais para não cair no descarte e nas mutilações dos mais frágeis. Aos extremistas que negam as diferenças naturais das pessoas, a criança poderá sempre gritar: o rei vai nu!

Por outro lado, a Revolução Francesas proclamou a igualdade, mas nunca a fundamentou corretamente. Para o Papa e o Grande Imã, “igualdade” não é “uniformidade” e não se equilibra sem a fraternidade. As propostas do Papa Francisco em «Fratelli, tutti», ocorre recordá-lo no 8º ano da sua eleição, vieram dar novo vigor à fraternidade que as posições revolucionárias deturpam. A fraternidade está muito acima da igualdade niveladora e acrescenta o conceito de igual na dignidade, à imagem e semelhança de Deus (Gen 1,26). A mesma dignidade das pessoa confirma-se com o facto de todas, irmãos e irmãs, de todas as idades e condições, receberem a dignidade do Pai comum, só um!. A simples afirmação de fraternidade de irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai, corrige o sentido ambíguo da igualdade nivelada. Não há filhos nem irmãos iguais.

As perceções de liberdade também variam. Para uns predomina o sentido de livre determinação sociopolítica; para outros, a liberdade, apesar de alguns condicionamentos psicológicos, confere à pessoa graus de responsabilidade. Que sentido de liberdade move os extremistas do Daesh, quando tiram a liberdade, compram e vendem crianças, mulheres e jovens? Condicionados, condicionam e tiram a liberdade social aos outros e os forçam a ser guerrilheiros e escravos. Controlados pelos seus carrascos, poderão, ainda, manter graus de liberdade de consciência. As cadeias de tráfico humano, contudo, tendem a multiplicar por milhões o número dos escravos. Na linguagem corrente, falada e escrita, mais se supõe, incorretamente, a liberdade que tanta manipulação e controlo. Vigora o interesse em manipular, usar técnicas de controlo e apregoar que cada um é livre e responsável, quando não raro se dá o contrário.

O Papa Francisco aos jornalistas, no avião de regresso do Iraque, foi direto a uma questão pungente. Os extremistas do Iraque, e agora os da África, não fabricam as armas de violência, terror e escravização. Matam e destroem com as armas que lhes fornecem. E rematou: outros as fabricam e vendem, mas não o dizem. Se ao menos dissessem: fomos nós que as vendemos, mas não dizem. «É muito feio (bruto)», concluiu.

A venda de armas a extremistas, falsos religiosos, é uma das mais poderosas técnicas para condicionar e perpetuar a cadeia de controlo de pessoas e denegrir a religião. As armas de venda clandestina forçam as cadeias de violência e morte, da compra e venda de pessoas, da sua coisificação e escravização sob trevas de mentiras. O caos atual, oposto à fraternidade, é um molho de corrupção, violência, escravidão. Como se forma este molho de maldade? Com a cola da ganância, narcisismo, vaidade e trevas da mentira. No tráfico de armas, de pessoas, e drogas a corrupção é pior que a Covid-19. A mentira faz escravos. Bem acautelou Cristo: «a verdade vos libertará» (Jo 8,32), e «quem pratica a verdade aproxima-se da Luz» e «as suas ações são desmascaradas» (Jo 3 19-21).

Aires Gameiro