Madeira

“Tudo o que faço ponho Deus na frente”

Larissa Nascimento, transexual brasileira participou em palestra juntamente com Idálio Sá, da comunidade cigana, e a africana Crispina da Costa

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“Tudo o que faço ponho Deus na frente”

Larissa Nascimento, transexual brasileira participou em palestra juntamente com Idálio Sá, da comunidaee cigana, e a africana Crispina da Costa

A transexual brasileira Larissa Nascimento é uma das atracções na edição deste ano do ‘Madeira 7 Talks’. Fez jus à expectativa sem complexos em aprofundar as suas opções de vida, a sua visão sobre os desafios sociais que a comunidade LGBT enfrenta. A viver em Portugal há quatro anos, a empresária “tudo o que faço ponho Deus na frente”. Admitiu que nasceu no corpo errado, que iniciou a actividade sexual aos 13 anos e que hoje toda a sua família, que nuna a rejeitou, pais e seis irmãs, “todos dependem de mim”. Defendeu a legalização da portistuição e não deixou de denunciar “olhares torpes” de alguns (muitos) dos presentes no ‘palco’ onde decorre o ‘Madeira 7 Talks’.

Quanto a Idálio Sá, presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação de Ciganos da Madeira, por ter como companheira uma madeirense não cigana, assumiu que fez a escolha que achou que era a mais acertada e que hoje é uma pessoa feliz, apesar de esta opção o ter afastado da família “vários anos. Paguei o meu preço”.

No final da palestra Idálio Sá supreendeu tudo e todos, inclusive a companheira – também presente – com pedido de casamento, aceite e muito aplaudido pela plateia.

Nascida na cidade de Canchungo, na Guiné-Bissau, mas a residir na Madeira, Crispina Costa assegurou que “ninguém é inferior a niguém”, apesar de reconhecer que há ainda muito a fazer para esbater o racismo.

Nascida no Brasil, mas especificamente na cidade de Fortaleza, Larissa Nascimento encontrou em Portugal uma segunda casa, mudando-se para terras lusitanas e por cá fixando residência. Porém, porque viajar é uma das suas paixões, Larissa já visitou muitas zonas da Europa e do Médio Oriente. A empresária identifica como uma das prioridades da sua vida fazer bem ao próximo, e, quando não está a trabalhar, gosta de se dedicar aos seus ‘hobbies’, que passam por cozinhar e ir ao ginásio. Membro da Comunidade LGBT Portuguesa, Larissa considera que Portugal é um país aberto e afirma que, até os dias de hoje, não se sentiu discriminada por ser uma transexual. Para muitos é a ‘cabeça de cartaz’ desta edição do ‘Madeira 7 Talks’, espaço previligiado para aprofundar este tema, as suas opções de vida, a sua visão sobre os desafios sociais que a comunidade LGBT enfrenta e o contributo que todos podemos dar para fazer de Portugal um estado cada vez mais respeitador e inclusivo.

Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação de Ciganos da Madeira, Idálio Sá nasceu em Lisboa, em 1979. Veio ao mundo no seio de uma família humilde, onde o respeito pelo próximo e o valor da honra foi um dos pilares que o levou a encarar o futuro com optimismo. Apesar das dificuldades económicas, sociais e raciais, teve quem o acompanhasse numa altura sensível do crescimento, ensinando-o a ver a vida por um outro ângulo e perspectiva numa sociedade que já então primava pelo egoísmo. Cumpriu o seu trajecto escolar até ao final e tirou o curso de Mediador a Dinamizador Socio-Cultural, tendo passado pela Câmara Municipal de Loures, onde exerceu funções no Gabinete de Intervenção Local. Depois, veio para a Madeira, que é onde hoje reside com a sua família.

Nascida em 1971, na cidade de Canchungo, na Guiné-Bissau, Crispina Costa recorda, com saudade, uma cidade de camaradagem e amizade, onde todos são família. Filha de um pescador e de uma mãe que, apesar de doméstica, era de uma tribo influente e detentora de terras e gado, cresceu numa casa simples, alegre, cheia e onde o conceito de propriedade privada não existia. Foi militante do PAIGC na sua juventude, período no qual também estudou nas escolas locais. Porém, o seu desejo por mais levou-a a deixar a terra-mãe e a partir para Roma, onde trabalhou em casas particulares para suportar os seus estudos na Universidade Pontífica Salesiana, na área da Comunicação. Em 2001, mudou-se para a Madeira, onde, devido ao facto do seu primogénito necessitar de apoio na área da neuro-pediatria, criou uma ligação especial com a Associação de Paralisia Cerebral da Madeira. Actualmente, lá trabalha como Ajudante de Acção Directa. A juntar a isso, participa na Associação Presença Feminina, a quem é grata pelo apoio que dela recebeu quando mais precisou. Hoje em dia, Crispina vive com o que tem à mão, sem remorsos, nem desespero. Mas sente que ainda tem uma missão por cumprir, nomeadamente voltar a Guiné-Bissau para levar o seu contributo à sua gente, assim como o conhecimento que tem adquirido por onde tem passado.