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ONU confirma 14 mortos nas manifestações de Julho no Mali, incluindo duas crianças

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A Missão das Nações Unidas no Mali (Minusma) disse hoje que durante a repressão policial e militar dos protestos de julho no país, contra o então Presidente Ibrahim Boubacar Keita, foram mortos 14 manifestantes, incluindo duas crianças.

Segundo a Minusma, numa declaração divulgada na capital do Mali, entre 10 e 13 de julho, "em Bamako, 14 manifestantes, todos do sexo masculino, incluindo duas crianças, foram mortos durante as intervenções das agências de aplicação da lei, incluindo a polícia nacional, a guarda nacional e a Força Especial Anti-Terrorista (Forsat), que em alguns casos usaram de força excessiva".

As manifestações contra o Presidente, que foi deposto um mês depois pelos militares, redundou em violência quando as forças policiais quiseram controlar os protestos.

"Neste período de transição política, encorajamos as autoridades malianas a redobrar os seus esforços na luta contra a impunidade e a continuar a assegurar o respeito pelos direitos humanos", apelou o chefe da Minusma, Mahamat Saleh Annadif, citado no comunicado.

No fim de semana de 10 de julho a manifestação convocada pelo M5-RFP, de oposição ao Presidente, degenerou um três dias de violência, a mais grave desde o golpe de Estado de 2012.

A oposição tinha apontado para 23 mortos, enquanto o Governo tinha avançado o número de 11 óbitos e cerca de 40 feridos.

O inquérito agora divulgado dá conta da participação da Forsat, formada pela União Europeia e a Raid, uma unidade de elite da polícia francesa, que é geralmente reservada à luta contra o terrorismo, revelou a agência de notícias France-Presse.

No comunicado salientou-se que os atos cometidos pelas forças de segurança são "violações e abusos dos direitos humanos, incluindo execuções sumárias, extrajudiciais ou arbitrárias".

O comunicado da Minusma surge na semana seguinte à divulgação de um relatório da comissão internacional das Nações Unidas para o Mali.

O exército maliano encabeça a lista das acusações pela comissão, que acredita ter recolhido "motivos razoáveis para acreditar" que este "cometeu crimes de guerra".

De acordo com a agência noticiosa francesa, o relatório identificou, ao pormenor, cerca de 140 casos em que foram cometidos crimes de abuso que provocaram milhares de vítimas -- entre mortos, feridos, torturados ou deslocados.

Entre 2012 e 2013, após o golpe de Estado de 2012 -- quando os militares malianos tomaram o poder sob a bandeira do combate aos rebeldes independentistas e 'jihadistas' no norte do país --, as forças de segurança foram acusadas de cometer "assassinatos" contra "membros das comunidades tuaregues e árabes".

A divulgação do documento acontece quando o país é liderado por militares que, em 18 de agosto, derrubaram o então Presidente, Ibrahim Boubacar Keita, e que mantêm o controlo dos principais órgãos de uma transição que pretende levar os civis de volta ao poder em 18 meses.

A instabilidade que afeta o Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e organizações fundamentalistas tomaram o poder do norte do país durante 10 meses.

Independente desde 1960, o Mali viveu, em 18 de agosto, o quarto golpe militar na sua história, depois dos episódios ocorridos em 1968, 1991 e em 2012.

Portugal tem desde 01 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma, que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.

O objetivo da missão portuguesa é assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas e vigilância aérea e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamako, onde estão alojados os militares portugueses.

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