Crónicas

Sim, sou um “beto” do CINM

1. Disco: de George Benson acabou de sair “Weekend In London”, álbum ao vivo que captura o ambiente intimista de uma série de concertos, no Ronnie Scott’s Jazz Club, em 2019. A voz de Benson mostra a maturidade que só alguém com a sua experiência carrega. E a guitarra, aquela guitarra inconfundível de “nuances” e enlevo.

2. Livro: “Gulag - Uma História”, de Anne Applebaum, devia ser de leitura obrigatória. Há muita literatura sobre os campos de concentração nazis e muito pouca sobre o que se passava no império vermelho. A vastidão do Gulag era impressionante. De pequenos acampamentos a gigantes cidades, de prisões urbanas a tendas na gelada Sibéria, havia de todos os tamanhos e feitios. A variedade de trabalho exigido, também era bastante diferenciada: dos complexos industriais à extracção de madeira, da mineração à construção de canais. Calcula-se que um total de 28 milhões de prisioneiros por lá tenha passado. Verdadeiros escravos, a trabalhar em condições horríveis. Quase 3 milhões, pereceram.

3. O Centro Internacional de Negócios da Madeira é uma entidade dinâmica. Todos os anos entram e saem sociedades, do seu âmbito. Esta possibilidade de prorrogação do prazo de aceitação de empresas é de enorme importância para o CINM, podendo, por um lado, possibilitar a compensação de saídas com novas entradas e, por outro, proporcionando-lhe capacidade de crescimento, sendo este factor fundamental na criação de riqueza.

A Comissão Europeia estabeleceu a possibilidade da prorrogação, por mais 3 anos, para todos os Regimes de Auxílio de Estado, onde se inclui o nosso Centro. Com essa prorrogação, poderiam continuar a inscrever-se novas entidades, beneficiando daquilo que o Regime 4 proporciona e dos incentivos fiscais até 2027.

Um exemplo da importância de tudo isto tem a ver com o MAR — Registo Internacional de Navios da Madeira, que é já um dos maiores da Europa e com uma enorme capacidade de crescimento.

O CINM não caiu do céu. Existe porque a Madeira, Portugal e a União Europeia entendem que este é um mecanismo fundamental na superação dos constrangimentos estruturais que a Região, por ser ultraperiférica, tem e que estão contemplados no Tratado Europeu e em diversa legislação conexa.

O Governo da República “esqueceu-se” de incluir esta alteração, no OE de 2021, para que esta capacidade pudesse ser executada pelo CINM.

Na votação da salvaguarda deste regime, no âmbito do Orçamento de Estado, o Partido Socialista mostrou com clareza ao que vem. Juntou-se à extrema-esquerda para chumbar uma alteração ao OE que permitiria aplicar o prolongamento do regime até 2023. Ao votarem contra, os socialistas travaram essa hipótese, colocando-se ao lado do BE e do PCP, bem como do PAN, de modo a emperrar o CINM, do qual são inimigos figadais.

As desculpas de mau pagador vindas do PS Madeira, não convencem ninguém. As atitudes ficam com quem as toma e são marcas de carácter. E o PS, tanto de lá como de cá, é isto, privilegia más companhias em detrimento de princípios.

Ainda resta uma hipótese de vermos a situação desbloqueada, uma vez que foi apresentada pelo PSD uma proposta nesse sentido que será discutida no parlamento no próximo mês. Tenho imensas dúvidas de que o PS altere o seu sentido de voto, uma vez que terá que cumprir a palavra que deu aos comunistas, para que estes se abstivessem na votação final do Orçamento de Estado.

O CINM não pode continuar a ser uma arma de arremesso. Precisa de estabilidade, sossego, fiabilidade, estratégia, segurança. A Zona Franca da Madeira tem que ser vista como um assunto de interesse nacional, pois proporciona desenvolvimento e cria riqueza.

4. João Miguel Tavares, há dias, num debate nas redes sociais, chamou-me “beto”. A mim e a todos os membros do Iniciativa Liberal. Segundo o cronista e comentador, do alto da sua insigne sabedoria, o IL é um antro de “betos”. Esta mania de JMT de que é o dono do liberalismo em Portugal, uma espécie de estratega mor assoberbado, tinha de dar nisto. Não perdoa, do alto da sua sabedoria estratégica, o facto de, em três anos e sem populismos nem pseudo-pragmatismos, o Iniciativa ter elegido dois deputados, um na Assembleia da República e, outro, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

João Miguel Tavares gosta muito de fazer comparações entre a esquerda e a direita. Mas nunca conseguiu perceber uma coisa: a falta de dimensão prática daqueles que comentam à direita, entre os quais está JMT. Ou seja, crescem como cogumelos os comentadores da direita que se acham uma espécie de gurus do quem, quando, onde, como e porquê. São quase todos uns verdadeiros especialistas, uns estrategas de primeira apanha, uns conhecedores profundos da distância que vai da ponta dos dedos ao teclado onde debitam furiosamente a sua sabedoria. Depois, é lê-las, às opiniões, que as há para todos os gostos e feitios.

Dar a cara por um partido, ir à luta eleitoral, ser partidariamente engajado, é que não. Ir a votos é uma violência e, muitas das vezes, magoa e muito.

João Miguel Tavares, desde o primeiro momento, sempre tratou o Iniciativa Liberal com desdém. Com o desdém de alguém que se sentiu esquecido e desvalorizado. Isto não é de agora.

Cada vez mais tenho a certeza de que o IL não encaixa no universo formatado do JMT. “Estava tudo tão bem arrumadinho e vêm agora estes gajos para aqui dar-me cabo das contas.”

João Miguel Tavares não faz, sequer, ideia das provações por que passamos. Porque somos um partido pequeno, temos uma enorme dificuldade em chegar à comunicação social (situação um pouco melhorada agora com a eleição de deputados) e, como temos uma grande dificuldade em fazer passar o que pensamos, continuamos a ser pequenos. É um círculo vicioso JMT, este em que vivemos, onde certos comentadores têm mais facilidade de nos entrar pela casa dentro com os seus “achismos”, do que um (ainda) pequeno partido fazer passar a sua mensagem, usando os mesmos meios. Sim, meu caro, as redes sociais são um meio a que temos que recorrer, criando circuitos, não só entre o Bairro Alto e o Twitter, mas também entre a Ribeira e o Facebook, entre a Praça do Giraldo e o Instagram, entre a Zona Velha e o LinkedIn. Felizmente crescemos em todo o país.

João Miguel Tavares o que mereceria, da minha parte, era um sonoro: “beto é o… que…”, mas sou pessoa bem-educada e está na hora de ir beber o meu cházinho das cinco e comer a minha “sande” de pepino.

5. E lá tivemos o Congresso do PCP. Cheio de metade da gente que estaria, todos de máscara em cima uns dos outros. Foi o que se viu.

Ouvir, ouviu-se um tal de Albano Nunes, perorar que o “capitalismo tem de ser derrubado pela força”. No meio de loas a Álvaro Cunhal e à, graças a Deus, extinta União Soviética, saíram outras pérolas que valem por si e são demonstrativas da fauna e da flora que cresce no seio dos comunistas portugueses: “a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas. O poder material tem de ser derrubado por poder material”; “o afastamento dos princípios marxistas-leninistas conduz à degenerescência e à derrota”.

É combatê-los. Combatê-los em todo o lado e de todas as maneiras permitidas pela democracia. Combatê-los com a razão, combatê-los com a verdade. Denunciá-los como anti-democratas que são. Ainda alguém tem dúvidas de que isto é tão mau como o Chega e outras excrescências que tal?

Pensar que não há extremismo no PCP, é o mesmo que tirar prazer de um clister.

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