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Maiorias absolutas

O PSD de Miguel Albuquerque, também não obteve maioria absoluta e é obrigado a fazer 460 nomeações

Grande parte da população começa a fazer uma leitura correta da política e dos seus agentes, os partidos políticos. Começam, agora, a dispersar o seu voto nos vários partidos do espetro político e, assim, cada vez mais, qualquer partido está com dificuldade em obter a maioria absoluta dos votos em atos eleitorais. Isto é bom ou mau para a governação de um país? Perguntarão.

Eu diria que é retórica que difunde e confunde sobretudo para os menos atentos às coisas da política e poder-se-ia classificar como navalha de dois gumes: Se o partido A tem maioria absoluta terá o ensejo de governar só mas tenderá a abuso de poder, irresponsabilidade e arrogância e, neste caso a oposição parlamentar ficará limitada ao mero papel do protesto sem interferir diretamente, assim, se o Governo for irresponsável o país seguirá um mau rumo e quem perde é a população. Todavia, se o mesmo partido tem apenas uma maioria relativa, tem pessoas responsáveis e formou um bom Governo, este não poderá governar porque a oposição, por ambição de poder, ideologia política, ou simples arruaça, dificultarão a governação reivindicando medidas que o Governo eleito não pode cumprir. Aí o país quererá progredir mas não conseguirá porque a oposição não deixa. Muitas vezes chega-se ao extremo de um pequeno partido com um só deputado ter o poder de decisão, o que configura um atropelo à democracia.

Analisemos, agora, outro cenário: As coligações. Como aconteceu com António Costa que para formar o XXI Governo Constitucional teve que fazer acordos parlamentares com o BE, PCP e PEV, porém sem que estes partidos tivessem qualquer lugar no executivo. Todavia, estes acordos são instáveis porque todos os partidos são convictos defensores das suas ideologias partidárias e exigem medidas descabidas que quem governa não pode cumprir. Verificamos isso para aprovação do Orçamento de Estado para 2021 onde todos os parceiros quererão agradar ao seu eleitorado mas não será benéfico para o país. Quem sofre? Mais uma vez a população.

Na Madeira, o PSD de Miguel Albuquerque, também não obteve maioria absoluta e é obrigado a fazer 460 nomeações e alargar o Governo para ceder três lugares e ,assim, conseguir o apoio do CDS mas todos nós sabemos que não foi para defender a região e os madeirenses, mas apenas por interesses partidários e sobretudo pessoais. Volta a ser mau para a população.

Nos Açores temos um cenário sui generis. Ainda por falta de maioria absoluta do PS A, Bolieiro do PSD A, com o ámen de Rui Rio, formou governo com uma coligação à direita composta por PPM, CDS e com apoio parlamentar do partido xenófobo e racista de André Ventura. Rui Rio que tanto censurou a “geringonça” de esquerda foi obrigado a engolir um grande sapo e concordou formar uma bagunçada com um partido que afirmou, publicamente, nunca iria ter acordos mas quando vislumbrou a hipótese do seu PSD vir a governar os Açores não hesitou a chegar-se à direita radical. Resta saber qual dos dois se moderou, o Chega ou o PSD, mas a democracia perdeu.

Outros há que não têm ideologias partidárias, porque militam em pequenos partidos por conveniência e são apenas seres humanos frustrados, cheios de inveja e ódio e tentam apenas destruir porque fulano e sicrano conseguiram um “tacho” e eles não. A única ambição é destruir. Eis os dois gumes da navalha das maiorias absolutas ou relativas.

Colocados estes cenários, qual deles o pior, o leitor interrogar-se-á: mas então como e em quem votar? Eu diria que tudo tem um preço na vida e nós estamos a pagar o preço da liberdade, da democracia. Cabe-nos informar-mo-nos, estar atentos aos políticos demagogos que apenas prometem o que não cumpririam se estivessem no Governo, não olhar para um partido ou os seus lideres, com fanatismo exacerbado como se fosse uma religião ou um clube de futebol, evitar a abstenção e por fim votar em coerência. É a única receita para, como dizia Churcil, vivermos no sistema político de todos o menos mau, a democracia.

Uma nota de rodapé para os desencantados com o sistema democrático: Será que alguém acredita que se o A. Ventura alguma vez chegasse a governar cumpriria aquilo que anda a apregoar, de expulsar ciganos, castração química para pedófilos, mutilar mulheres, pena de morte ou prisão perpétua? Ele é apenas uma caixa de ressonância dos descontentes da política. Ele sabe que nunca conseguiria ⅔ dos deputados na A.R. para aprovarem alterações à Constituição e implementar os desejos dele. Por isso não receio afirmar que o Ventura é apenas um cata-vento da política, adora polémica para que falem dele como quando fazia aquela “peixeirada”discutindo jogadas de futebol num programa de arruaceiros.

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