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Circularidade

Madrugadas atrás a assistir na CNN, dir-se-ia por sadomasoquismo, o debate entre dois candidatos

Há um quase amanhecer, aqui e agora. Com circularidade. Não me dou bem com a solidão, mas preciso estar só para escrever. Preciso estar comigo, num recanto de livros e de murmúrios longínquos, para a vazão de algum despojar do mundo. Preciso de mim, na contiguidade por amanhecer, para não deixar escapulir os meus pensamentos, fragmentos, apontamentos...

Madrugadas atrás a assistir na CNN, dir-se-ia por sadomasoquismo, o debate entre dois candidatos à presidência dos EUA. Quem acredita na cegueira, ora da escuridão, ora da claridade, responda aqui presente à tristeza instalada. Em tempo assaz severo e macabro, metonimicamente abate-se Lorca de novo. Algo como uma crueldade presentifica-se. Em descompasso.

O poeta Arménio Vieira (Prémio Camões, em 2009), vindo da cidade da Praia, em escala a caminho de Paris. Juntos, varámos o tempo - tangência a transcender-se numa esplanada do Rossio -, em torno do seu próximo livro de poemas, “Safras de um triste outono”. Gravitou-se sobre o que ali há - as obsessões espirais, a costura alinhavada de palavras e o diluir-se por tantos outros poetas evocados. Uma complexidade textual. Só de raro em raro uma literatura produz um livro assim.

Combinámos, ressalvando a contingência da pandemia, que em fevereiro o livro será editado em Paris. Apresentado na mesma semana que o de Haideia Avelino Pires. E Arménio Vieira encantado com o lenitivo poético de HAP, bem como os seus rastros e interpenetrações da palavra no livro “Nexo e Nome” (Rosa de Porcelana Editora).

Quem sabe, agora que amanhece, os gatos da vizinhança já tenham arribado ao quintal e as laranjas se assentem ao mistério da madurez, como se na circularidade de tudo este próprio dia se torne bênção para todos. Há um entrelaçar-se dos seus fios que nem vos conto. Todavia, parte do que poetiza esta manhã tem sabor outonal!

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