Livro “Crónicas Prisionais” oscila entre a realidade prisional e a ficção

O médico Jorge Branco, autor da coletânea de contos “Crónicas Prisionais”, disse que as narrativas que escreveu, oscilam entre a realidade que conheceu em meio prisional e a ficção.
Em declarações à agência Lusa, Jorge Branco afirmou que aproveitou “algumas circunstâncias e personagens” que conheceu em meio prisional, durante a sua experiência enquanto clínico, designadamente no Hospital de S. João de Deus, em Caxias, nos arredores de Lisboa, de 1980 a 1994, mas “a ficção sobrepõe-se”.
No total são 21 histórias com personagens como a “Carrapiça”, “Maria da Redenção”, “Arsénio Guadalupe”, o fantasma de “Maria José Luz” ou o “Casimiro”.
“O que é real na maioria dos meus contos são as personagens e algumas circunstâncias, há factos que relato que são pura ficção, embora alguns se aproximem mais da realidade do que outros”, disse Jorge Branco.
A “necessidade de escrever e rememorizar algumas situações” vividas em meio prisional, levou Jorge Branco a escrever, mas “não a fazer um retrato da prisão, ou da vida em meio prisional”.
“Vivi seis anos nas prisões, e vivi algumas histórias, que podem ter algum interesse, e daí ter decidido escrever, mas se alguns crimes violentos que relato foram reais, assim como algumas personagens, a ficção sobrepôs à realidade”, afirmou.
Em termos de ficção, o autor estreou-se em 2014, com “Senhor doutor, dói-te tudo! Estórias Vivas de um Médico nos Subúrbios”, e no horizonte tem um romance, que intitular-se-á “Costas Flageladas”.
Além de opúsculos na sua área profissional, como “O Médico de Família e a Saúde Mental”, Jorge Branco já editou, na área da etnografia e sociológica, “Comenda com Alma, Ainda há Vida na Charneca!” (2015), sobre a sua aldeia, a Comenda, no concelho alto-alentejano de Gavião, sobre a qual está a preparar um trabalho de “registo da memória coletiva”, através “dos testemunhos de muitos dos seus habitantes, nomeadamente os mais velhos”.
Referindo-se a esta coletânea, “Crónicas Prisionais”, o autor citou como os seus contos preferidos, “Travessa das Mónicas à Graça...”, em que uma das personagens é a “Carrapiça”, e “O Fantasma da Matricida”, em que paira o “fantasma de Maria José da Luz” e onde é na cela da cadeia feminina das Mónicas, antigo convento, em Lisboa, que as personagens Violeta, “uma mulher vulgar no tamanho e no porte”, e Luísa se reconciliam. Como escreve o autor, “o amor tinha triunfado, mesmo naquele ambiente bafiento e fantasmagórico”.
Jorge Branco foi contemporâneo do encerramento deste estabelecimento prisional, em 1987, e reconhece que foi um ambiente que o marcou muito. Atualmente, uma galeria de arte, o convento foi espaço conventual feminino de 1586 a 1834, tornou-se prisão feminina em 1917, e uma das últimas mulheres que ali cumpriu pena foi “Dona Branca”, conhecida como “a banqueira do povo”.
Referindo-se a outros contos que reuniu neste livro, com a chancela das Edições Colibri, Jorge Branco citou “Mortes na Noite Beirã”, uma das histórias verídicas que conta, mas que “não trouxe do ambiente prisional”.