Desporto

Árbitros apontam o dedo a dirigentes e comentadores desportivos

A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol anunciou, na segunda-feira, a greve dos árbitros nos desafios da Taça da Liga em Novembro e Dezembro. FOTO Global Imagens
A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol anunciou, na segunda-feira, a greve dos árbitros nos desafios da Taça da Liga em Novembro e Dezembro. FOTO Global Imagens

A greve dos árbitros nos desafios da Taça da Liga em Novembro e Dezembro será uma oportunidade para “ver comentadores desportivos e dirigentes a arbitrar”, afirmou hoje o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF).

Em declarações prestadas na Assembleia da República, após a audição do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Luciano Gonçalves vincou que a tomada de posição do sector de arbitragem deriva do “ambiente que está criado” em torno da modalidade.

“Deve ser um sinal de preocupação para o futebol português e é um sinal também de preocupação para nós, mas, ao mesmo tempo, abriu-se aqui uma janela de oportunidade. É uma oportunidade para que possamos ver em acção e, quiçá, em campo os comentadores desportivos e os dirigentes, eles próprios, a arbitrar os jogos”, disse.

Nas palavras irónicas de Luciano Gonçalves, os diversos programas televisivos de comentário de futebol que se centram na arbitragem acabam por conferir a esses protagonistas as mesmas capacidades que têm os árbitros profissionais.

“Pelas horas que passam a falar de arbitragem, são tão profissionais ou mais do que os árbitros, que têm formação nesse sentido. Também devem ter todas as competências e, sendo eles isentos, certamente irão desempenhar muito bem essas funções”, acrescentou, sem deixar de visar os presidentes dos clubes, por considerar que o “exemplo vem de cima”.

Esta preocupação foi partilhada pelo presidente do Sindicato de Jogadores, Joaquim Evangelista, que subscreveu ainda as ideias defendidas por Fernando Gomes no parlamento, apelando a “medidas repressivas” para se “agravar as sanções” e “ter medidas mais preventivas” para mudar o paradigma actual do futebol português.

“Queria mandar uma mensagem clara aos dirigentes dos três ‘grandes’: era importante assumir esta responsabilidade para que façam mais nesta matéria. Há um clima de ódio relativamente à arbitragem, há violência no desporto, e os dirigentes dos três ‘grandes’ têm uma responsabilidade maior”, frisou.

Por fim, Rui Marote, representante das Associações Distritais e presidente da Associação de Futebol da Madeira, expressou a sua ideia de que o clima de tensão que se instalou no futebol nacional está relacionado com a diminuição de vagas para clubes portugueses nas competições europeias a partir da próxima época.

“Na próxima época desportiva, há menos clubes a participar nas competições europeias e, para mim, este clima tem a ver com essa situação. O que se pede é contenção”, sintetizou o dirigente aos jornalistas, depois da audição do líder da FPF na Assembleia da República.

Recorde-se que Fernando Gomes propôs hoje a criação de uma autoridade para combate à violência no desporto, maior eficácia nas medidas de interdição a recintos desportivos, mudanças na política de apoios e regulação dos grupos de adeptos e a avaliação da possível retirada de benefícios aos promotores na comparticipação dos encargos com policiamento.