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Acidente grave: qual a lógica de passar pelo Centro de Saúde?

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Foto DR

Entre os leitores da notícia publicada na segunda-feira, 8 de Setembro, pelo DIÁRIO, sobre a morte de um jovem de 22 anos na sequência de um acidente de mota na Ribeira Brava, surgiram várias críticas e dúvidas sobre o protocolo seguido no socorro a doentes graves. A notícia, publicada em dnoticias.pt e replicada nas redes sociais, indicava que “a vítima encontrava-se em paragem cardiorrespiratória e apresentava um corte profundo num membro inferior. Após ser estabilizada, foi transportada com pulso, mas sem consciência, até ao Centro de Saúde da Ribeira Brava, sendo depois encaminhada para o Hospital Central do Funchal, onde acabou por falecer.”

Jovem de 22 anos morre na sequência de um acidente de mota

Vítima foi a óbito no Hospital Central do Funchal

Nos comentários dos leitores surgiram questões como: “Como um caso tão grave é obrigatório passar primeiro pelo Centro de Saúde?”, “Realmente era já direito ao hospital”, “… não é só na Ribeira Brava, já vi noutros concelhos também”, “Em casos mais graves deveria ser directamente para o hospital” e “… não percebo. Se é um caso de extrema urgência, por que razão ainda vai ao Centro de Saúde? Depois ao hospital. Porquê?”.

A Secretaria Regional da Saúde e Protecção Civil, que tutela o Serviço Regional de Protecção Civil (SRPC), esclarece que, em situações de excepção como esta, são aplicados critérios rigorosos e reconhecidos no âmbito da emergência médica, cujo objectivo principal é salvar vidas. No caso concreto, a vítima foi levada primeiro ao Centro de Saúde da Ribeira Brava para implementação precoce de medidas de Suporte Avançado de Vida (SAV), uma vez que a equipa EMIR de serviço estava ocupada noutra ocorrência prioritária – uma paragem cardiorrespiratória recebida anteriormente.

Estas medidas incluem o controlo de causas reversíveis de paragem cardiorrespiratória, como hipovolemia, tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, cateterização venosa e administração de adrenalina, procedimentos que podem ser determinantes para a sobrevivência. A vítima foi transportada com sinais vitais e acompanhamento especializado, garantindo maior segurança durante o percurso até ao hospital.

A Secretaria sublinha que “a aplicação destas medidas pode fazer a diferença entre a vida e a morte. O transporte inicial para o Centro de Saúde com regulação médica permitiu que a vítima seguisse para o hospital em melhores condições, com acompanhamento diferenciado, um dos objectivos elementares de um Sistema Integrado de Emergência Médica”.

O protocolo em vigor determina que o médico de serviço avalie continuamente o estado clínico das vítimas e decida sobre o encaminhamento mais adequado, com base na gravidade e na disponibilidade de recursos. No período em causa, a simultaneidade de ocorrências graves levou à activação de uma segunda equipa EMIR, destacada para responder a outro acidente de viação grave com duas vítimas, uma delas em paragem cardiorrespiratória, no Funchal.

Desta forma, o transporte inicial da vítima para o Centro de Saúde antes do hospital não representou erro, mas sim a aplicação correcta de procedimentos de emergência médica, adaptados à situação clínica e à disponibilidade de recursos, maximizando as hipóteses de sobrevivência. A situação gerou debate público sobre a percepção de procedimentos médicos de emergência, destacando a importância de compreender que, mesmo em casos de trauma grave, a sequência de transporte pode variar conforme a gravidade da vítima, a disponibilidade de equipas e a necessidade de medidas imediatas de salvamento.

O SRPC tem a responsabilidade de gerir e coordenar a resposta dos bombeiros e das equipas de emergência médica, incluindo a activação das equipas EMIR e outros meios de socorro. Este serviço assegura que a distribuição de recursos humanos e materiais seja eficiente, coordenando a comunicação entre serviços de saúde, bombeiros e autoridades locais, de modo a garantir uma resposta rápida, segura e adequada às diferentes emergências.

Concluiu-se assim que o protocolo seguido visou sempre maximizar as hipóteses de sobrevivência da vítima, demonstrando que, em emergências graves, a prioridade é a resposta adequada às necessidades clínicas imediatas, independentemente da sequência de transporte.

A vítima de trauma grave deveria ter sido transportada directamente para o hospital?